Universidade Eduardo Mondlane

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UEM molda a saúde em Moçambique

DA FORMAÇÃO DE MÉDICOS À INVESTIGAÇÃO PIONEIRA

A Universidade Eduardo Mondlane (UEM) desempenha, há cinco décadas, um papel determinante no avanço da saúde em Moçambique, combinando a formação de profissionais com investigação científica de impacto directo na vida da população. A afirmação foi feita pela Professora Doutora Emília Noormahomed durante a palestra de encerramento da XIII Conferência Científica da UEM, onde sublinhou que a instituição “tem sido a espinha dorsal da ciência e da inovação em saúde no país”.

Entre 1974 e 2024, dos 2.475 médicos graduados em Moçambique, 2.300 foram formados pela UEM, o que confirma a relevância da instituição no sector. Mas o contributo vai além da formação: a universidade foi pioneira na criação de outras instituições de ensino e investigação em saúde, consolidando uma rede nacional de conhecimento.

No domínio da produção científica, a UEM continua a liderar entre os países africanos de língua portuguesa, sendo responsável por 63% da investigação publicada nos PALOP, seguida de Angola com 16%.

Investigação que salva vidas

A Professora Noormahomed destacou a ligação entre a produção científica da UEM e a melhoria das condições de saúde em Moçambique. Um exemplo notável foi a redução da prevalência da malária de 91%, em 1975, para 31%, em 2015, resultado de investigações conduzidas pela Universidade e do envolvimento de seus académicos na formulação de políticas públicas.

Outro marco histórico foi a participação da UEM em ensaios clínicos de vacinas contra a malária, incluindo a pioneira RTS,S/AS01, inicialmente testada em exclusivo no país, sob liderança de investigadores da instituição. Os resultados abriram caminho para o desenvolvimento da actual vacina R21, hoje aplicada em vários países africanos.

“Este é o fruto da investigação comprometida com a resolução dos problemas do país e da região”, sublinhou a investigadora.

Ciência na vanguarda

Para além das vacinas, a UEM tem recorrido a ferramentas modernas como a Inteligência Artificial. Investigadores da Faculdade de Ciências desenvolveram algoritmos e modelos matemáticos para identificar factores de risco de doenças e criar aplicativos de apoio à gestão de pacientes com HIV, diabetes e outras doenças crónicas.

No campo das doenças negligenciadas, a UEM realizou, em 1997, o primeiro diagnóstico da cegueira de “Rio’s” em Moçambique, possibilitando ao Ministério da Saúde integrar medidas de controlo nos seus programas, experiência que depois foi replicada em países vizinhos como Tanzânia e Malawi.

Já em 1999, uma colaboração entre as Faculdades de Medicina e Veterinária resultou no diagnóstico do primeiro caso de neurocisticercose, uma das principais causas de epilepsia no país. O subsequente mapeamento orientou estratégias de prevenção e combate.

Os investigadores da UEM também contribuíram para o estudo da tuberculose bovina, identificando rotas de transmissão da Mycobacterium bovis, o que permitiu reforçar as medidas de vigilância e combate à doença.

Desafios para o futuro

Apesar do percurso notável, Noormahomed chamou atenção para desafios que persistem: a renovação do corpo docente, a progressão na carreira académica, a modernização dos equipamentos laboratoriais, a forte dependência de financiamento externo para investigação e a necessidade de internacionalizar a revista científica da UEM.

No encerramento da conferência, o Reitor da UEM, Prof. Doutor Manuel Guilherme Júnior, agradeceu a todos os envolvidos e destacou o contributo dos parceiros institucionais. Para o dirigente, o sucesso do evento “reflecte a qualidade dos oradores e a relevância dos debates, que reforçaram a importância da ciência como motor do desenvolvimento sustentável de Moçambique”.