“A formação académica permitiu reconhecimento dos actores Moçambicanos no exterior”
Francisco Nuvunga, estudante de Teatro na ECA
Francisco Nuvunga Júnior, 26 anos de idade, natural da cidade de Maputo, estudante do terceiro ano de licenciatura em Teatro, na Escola de Comunicação e Artes, é um jovem versátil, que se desdobra entre a arte de representar e a electricidade, esta última como sua primeira profissão com nível médio de formação. Ainda no banco da carteira já tem actuações de nível profissional em teatro e telenovelas.
É reconhecido na ECA pelo seu talento e envolvimento em diversos projectos, dirigidos por profissionais de primeiro quilate no teatro nacional, alguns dos quais seus docentes. Reconhece o contributo da UEM na evolução desta arte, o que confere reconhecimento dos actores nacionais além-fronteiras.
Quando é que começou a fazer teatro? Influenciado por alguém?
Comecei a fazer teatro na igreja da Nossa Senhora das Vitórias, que fica próximo ao mercado Janet, fiz por dois anos e, no terceiro, participei numa apresentação da via sacra, que acontece por ocasião da Sexta-feira Santa, na igreja católica. Então, comecei ali, fui orientado pelo Leonel, que é meu colega e irmão da igreja, e que, por coincidência, faz parte do grupo teatral da UEM, que opera no Centro Cultural, denominado “Fungula Masu”. Ele indicou-me o grupo, falou dos dias de ensaios e fui lá me apresentar.
Porquê escolheu licenciatura em teatro?
No nosso grupo da igreja apareceu o Fernando Macamo, que foi estudante daqui da ECA e licenciado em teatro no ramo da representação. Introduziu formas diferentes de trabalhar, porque já era formado e tinha a ciência da coisa. Passamos a fazer boas apresentações. Ele orientou-me a dois estudantes, que também, por coincidência, estavam a concluir o curso de teatro, aqui na Universidade, no ramo da representação. Eu tinha que fazer parte da defesa deles, que era uma apresentação de um texto de Shakespeare na peça que se chamava “Os dois Manecmos”. Porque tínhamos que garantir que o estudante aprovasse, fizemos um trabalho muito sério. Os professores que estavam no Júri, entre eles os professores Guiamba, Victor e Dadivo, gostaram muito do meu desenvolvimento na peça, e convidaram-me para me inscrever aqui para poder fazer o curso de licenciatura em teatro.
Tem estado envolvido em vários projectos com actores profissionais. Como é que consegue conciliar com estudos?
Graças a Deus, os trabalhos em que estou envolvido são do meu curso, têm a ver com a minha área de formação, e eu acho que é uma das coisas muito boas que tenho, porque me deixa firme e permite conciliar a teoria com a prática. Tenho essa sorte de pôr em prática as técnicas que aprendo aqui na escola. Tenho conseguido conciliar, dividindo muito bem o meu tempo. É, na verdade, um esforço também, porque, de um lado, tenho a pressão de não decepcionar os meus docentes, porque eles são meus colegas de trabalho no campo.
Francisco tem participação também em algumas novelas. Quer falar um pouco dessa experiência?
Foi incrível saber que ia fazer parte de uma novela, primeiro não acreditava, e quem participou do casting foi o meu amigo, que é também estudante aqui, o António Sitoe, o protagonista do filme Nhinguitima. Ele é que me escolheu para um certo papel na agência Panavídeo. Eu não conseguia acreditar que ia fazer parte de uma novela até o dia em que, realmente, fui fazer o trabalho.
Foi uma experiência muito boa participar da novela, aprender novos termos, novas áreas de trabalho na área da novela; foi algo que me pôs mais aberto. Pude aprender novas técnicas porque a televisão é algo mais contínuo, é uma máquina a andar e a trabalhar para o cliente, e eu tinha que decorar o texto e, logo de seguida, ia gravar a cena. Foi um pouco complicado eu me introduzir nesse tipo de trabalho, mas, passado um mês, acabei ficando mais à vontade. E, ao longo do tempo, fiz amigos, família e aprendi muitas coisas, porque parte dos meus professores eram directores da novela e, como já tínhamos uma ligação com eles a partir da Escola, foi fácil.
Onde é que se sente mais à vontade, palco ou em gravação de novela?
Eu sou actor, e uma das características do actor é saber estar em qualquer lugar, saber vivenciar qualquer momento, então, posso dizer que não tenho uma característica de preferência, mas a base, a mãe é teatro, então, a minha preferência por causa da liberdade que há, é o teatro. Mas a televisão também é porque faz parte do meu trabalho e, agora que aprendi como estar lá, me sinto à vontade.
De todos os trabalhos que já fez, qual foi o que mais te marcou?
Diferenciando novela e teatro, todos marcaram, a novela marcou, porque deu mais visibilidade à minha imagem, as pessoas viram o meu trabalho e a minha forma de trabalhar. Mas também, existe o teatro, eu venho do teatro, e o teatro marcou-me mais com a peça “A Amarada Chuva de KaMutxukêti”, porque pude trabalhar como colega de todos os meus professores juntos, e aquilo foi algo inédito. Aprendi a falar o texto. Tinha dificuldade em saber falar certos textos.
Para si, o que é necessário para ser um bom actor?
Se nós queremos realmente aprender, devemos ser disciplinados, ter disciplina é a primeira coisa, porque, se não for disciplinado, não vai poder aprender. Para ser bom actor, é preciso ter disciplina. Também há que ter espírito aberto, porque não importa se a pessoa estudou ou não, sempre se pode aprender algo novo com qualquer pessoa. E, se quiser se tornar um actor de verdade, é necessário se formar numa faculdade para poder aprender as técnicas, aprender de perto com os profissionais e os professores de teatro.
Que avaliação faz do teatro moçambicano?
Evoluiu bastante. Muitos actores estão formados. Vemos trabalhos de excelente qualidade. Hoje, os actores nacionais são muito requisitados para trabalhar em projectos no exterior. O exemplo disso são os nossos professores que, neste momento, estão a actuar em Portugal, numa obra de Victor Oliveira.
Quais são os seus grandes desejos após a conclusão do curso na UEM?
Não foge do primeiro, que é me tornar um actor profissional e poder mostrar aos países estrageiros a nossa cultura, mostrar que os moçambicanos também são capazes de actuar em cinema e em novelas, fazer performances nacionais para poder alcançar palcos internacionais, essas são algumas das minhas metas e, também, poder educar através do teatro.