Universidade Eduardo Mondlane

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Vegetais nativos mantêm protagonismo na dieta rural no sul de Moçambique

– Estudo revela importância alimentar, medicinal e cultural de espécies autóctones ameaçadas pela mudança de hábitos e alterações climáticas

Apesar do crescente acesso a produtos alimentares industrializados, os vegetais nativos como cacana, tseke, furana e nhapepe continuam a desempenhar um papel central na alimentação das comunidades rurais do sul de Moçambique. A conclusão é de um estudo apresentado esta Quinta-feira (31 de Julho), em Maputo, durante o seminário de divulgação dos resultados do projecto “Enhancing Food Security and Climate Change Adaptations through Wild Food Plant Species Promotions in Southern Mozambique”, uma iniciativa financiada pelo Governo de Moçambique e pelo consórcio ICIPE-PASET.
A investigação, conduzida pela pesquisadora Líria Zandamela, da Faculdade de Ciências da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), teve como foco três localidades: Missivene, Calanga e Combomune. O estudo revelou que, para além do valor nutricional, esses vegetais são valorizados pelas suas propriedades medicinais e pelo seu sabor característico, factores que justificam a sua persistência na dieta local.
Contudo, a investigação alerta para uma redução acentuada do consumo e comercialização desses alimentos nos últimos dez anos, sobretudo entre os jovens, cada vez mais expostos aos produtos industrializados disponíveis nos mercados locais. Esse declínio está também ligado ao desconhecimento sobre técnicas de processamento, o que leva à perda de parte do potencial nutritivo e económico dessas espécies.
Além dos vegetais, os frutos nativos como o canhú, massala, macuácua e mafura também enfrentam declínio na produção e consumo. Os dados do estudo indicam que cereais, hortaliças e leguminosas continuam entre os alimentos mais consumidos nas comunidades, enquanto produtos de origem animal (leite, ovos e carne) são os menos frequentes na dieta dos agregados familiares.
Durante a abertura do evento, o Director-adjunto para a Pós-Graduação da Faculdade de Ciências da UEM, Prof. Doutor Osvaldo Loquiha, alertou que a segurança alimentar permanece um dos principais desafios das regiões rurais do país, agravado pelos impactos das mudanças climáticas – como secas, cheias e ciclones – que afectam ciclicamente o território moçambicano.
“O projecto que hoje apresentamos pretende complementar estes esforços trazendo evidência científica, soluções locais e inovações baseadas no conhecimento para os problemas da insegurança alimentar e nutricional do país”, afirmou Loquiha.
Com início em Julho de 2023 e término previsto para agosto de 2025, o projecto visa promover espécies alimentares silvestres como alternativa sustentável para a adaptação às alterações climáticas e à melhoria da nutrição local. Através da documentação científica, capacitação comunitária e valorização do saber tradicional, a iniciativa procura responder de forma inovadora aos desafios alimentares do país.
Ao encerrar o seminário, os organizadores reforçaram a importância de políticas públicas e programas educativos que incentivem o uso sustentável dos recursos alimentares nativos, garantindo, simultaneamente, conservação da biodiversidade, valorização cultural e resiliência económica das famílias rurais.