
Ética em crise: meios de comunicação entre a verdade e o mercado
Especialista aponta a erosão dos valores éticos no jornalismo moçambicano
“Mentir não é natural, mas torna-se hábito quando o fazemos todos os dias”, alertou a especialista em ética, Jovita Fazenda, durante uma palestra proferida na última Segunda-feira (15/07), na Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane (ECA-UEM), subordinada ao tema “Práticas da ética e compliance nas empresas e instituições moçambicanas”.
Segundo a especialista, os meios de comunicação social estão a viver uma crise ética profunda, movida pela crescente mercantilização da informação. O foco, que outrora era o de informar com isenção e responsabilidade, tem cedido lugar à lógica do lucro e da propaganda. Os media passaram a priorizar conteúdos vendáveis em detrimento da missão de informar e educar a sociedade, constatou.
Fazenda afirma que a deterioração do tecido ético e moral das sociedades moçambicanas está a reflectir-se nos media, que deixaram de ser baluartes da verdade para se tornarem instrumentos de entretenimento e manipulação. “Quando os media falham na sua função, abrem espaço para que actores políticos manipulem a opinião pública. As pessoas são guiadas por quem tem a voz”, disse.
Durante a palestra, a investigadora defendeu que a ética no jornalismo vai além da simples denúncia de factos negativos. Para a interveniente, a comunicação social deve garantir o equilíbrio informativo e o compromisso com o interesse público. “É preciso perguntar: será que nas instituições onde trabalhamos conseguimos influenciar decisões que garantam que as boas histórias também sejam contadas?”, desafiou.
A ética, segundo a especialista, está ligada à honestidade e à consciência crítica que cada profissional deve cultivar. “As nossas atitudes influenciam o espaço onde estamos inseridos. A pergunta que devemos fazer é: estou a contribuir positivamente para esse ambiente?”, disse, incentivando os presentes a refletirem sobre o seu papel ético no exercício profissional.
Jovita Fazenda deixou ainda um alerta inquietante: “mentir diariamente dói e cria nervos num primeiro momento, mas, depois, se torna hábito, porque as pessoas vão tirando os próprios filtros para o erro e tudo que viola os princípios e valores segue a mesma proporção.”
A palestra despertou reflexões entre os estudantes e profissionais presentes, destacando a urgência de reforçar os princípios de ética e responsabilidade no jornalismo moçambicano, sobretudo num contexto em que o acesso à informação credível é cada vez mais desafiado por interesses comerciais e políticos.