
Obra de Camões debatida à luz do ensino e da investigação em Moçambique
A celebração dos 500 anos do nascimento de Luís Vaz de Camões, o maior poeta da língua portuguesa, ganhou vida em Maputo, com a realização do II Congresso alusivo ao Meio Milénio de Camões, esta Sexta-feira. O evento, que junta académicos moçambicanos e internacionais, é promovido pela Universidade Politécnica, Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e a Rede Camões na Ásia e África.
Durante a sessão de abertura, o Reitor da UEM, Prof. Doutor Manuel Guilherme Júnior, sublinhou que a obra de Camões continua a interpelar os nossos dias. “O poeta do século XVI permanece objecto de investigação e debate, envolvendo áreas como a história, a literatura, a língua e a cultura portuguesas”, disse, enfatizando que a efeméride deve ultrapassar a simbologia para se transformar num exercício crítico. “Deve ser uma ocasião para reavaliarmos, criticamente, as formas como lemos e ensinamos Camões, como o traduzimos, citamos, questionamos e investigamos.”
Para o Reitor, a cooperação entre as universidades envolvidas no congresso é prova da actualidade do legado camoniano. “Esta colaboração demonstra que as obras de Camões atravessam o tempo não como relíquias do passado, mas como textos vivos, continuamente renovados pelos olhares de professores, investigadores, intérpretes e leitores.”
O Professor Emérito da Universidade Politécnica, Lourenço do Rosário, reforçou a importância de resgatar Camões na memória e no ensino em Moçambique, sublinhando que o país possui “vasto material de investigação camoniana”, com potencial para alimentar o Sistema Nacional de Ensino. “As universidades podem influenciar os decisores políticos, apresentando reflexões fundamentadas que revelem Camões como também parte da nossa história literária”, frisou.
Com ousadia, Lourenço do Rosário defendeu que Camões pode ser compreendido como “escritor moçambicano”, justificando: “Camões é nosso, porque escreveu em Moçambique. Foi expulso de Portugal e enviado para a Ilha de Moçambique, onde viveu momentos de prisão e privações. Mais tarde, Portugal o consagrou como o seu maior poeta.”
Por seu turno, o Reitor da Universidade Politécnica, Prof. Doutor Narciso Matos, destacou o valor do congresso como espaço para revisitar criticamente a figura de Camões. “A vida e a obra de Camões não apenas moldaram a literatura portuguesa, mas também influenciaram a cultura mundial, mantendo-se actuais e inspiradoras até aos nossos dias”, declarou.
O congresso prossegue no dia 10 de Junho, na Ilha de Moçambique, local onde o poeta viveu e que, hoje, faz parte do património histórico e cultural do país. O programa inclui palestras, mesas-redondas, visitas guiadas e actividades culturais que reforçam os laços entre a obra de Camões e a identidade moçambicana.