
Registo manual de dados nos serviços públicos compromete uso da ferramenta
A escassez de dados locais estruturados constitui desafio para o uso da Inteligência Artificial (IA), em Moçambique, uma vez que os algoritmos dependem de grandes volumes de dados relevantes e de qualidade. Por exemplo, os sectores como a saúde, agricultura ou educação, no país, ainda registam dados manualmente ou em papel, o que poderá causar dificuldades caso se queira avançar no uso da IA nestes sectores, revelou o investigador Ruben Manhiça, da Faculdade de Engenharia.
Outrossim, as infraestruturas tecnológicas limitadas também constituem desafios porquanto muitos distritos continuam a enfrentar instabilidade energética, baixa conectividade e acesso restrito a equipamentos modernos.
A escassez de profissionais com competências em ciências de dados, como machine learning e engenharia de IA, segundo o especialista, é outro constrangimento, bem como a falta de regulamentação clara sobre a privacidade de dados, e protecção contra discriminação algorítmica.
O investigador falava no programa “Marketplace”, no espaço de inovação da UEM, num tema intitulado “Desafios e oportunidades no uso da IA como catalisador para a transformação digital em Moçambique, promovido pelo Centro de Informática.
Entretanto, Ruben Manhiça, avançou algumas oportunidades que a ferramenta tecnológica pode oferecer ao país, entre as quais, melhorar a alocação de recursos, prever necessidades e automizar processos nos serviços públicos, apontando, como exemplo, sistemas de triagem inteligente de pacientes em hospitais com base em sintomas.
No sector agrícola, Manhiça referiu que a IA combinada com sensores e drones, permite monitorar plantações, prever colheitas e combater pragas de forma eficiente, bem como pode auxiliar na detecção e classificação de doenças em plantas agrícolas.
Segundo o investigador, a Inteligência Artificial pode ser um instrumento de combate a corrupção, através de um algoritmo treinado para apoiar na gestão pública inteligente de recursos, auxiliando na análise de grandes volumes de dados governamentais para identificar padrões de gastos irregulares. “A IA também terá grande impacto na educação através de plataformas educativas que adaptam o conteúdo ao ritmo de aprendizagem do aluno e apoiam o professor, oferecendo um feedback automático”, disse.
Lamentou a dependência de tecnologias externas e soluções importadas, uma vez que as soluções desenvolvidas fora do continente africano muitas vezes não se adaptam ao contexto social e linguístico local.
Na abertura do evento, o Director do CIUEM, Doutor Luís Neves, frisou que a IA não é apenas uma ferramenta tecnológica, mas um verdadeiro motor de desenvolvimento, justificando a necessidade de debate para melhor aproveitar o seu potencial.
O representante da Agência Italiana para Cooperação, Francesco Rossi, garantiu continuar a trabalhar com a UEM para continuar a fortalecer as competências digitais, criando novas oportunidades, bem como promover a competência científica, inovação tecnológica e soluções inovadoras em prol do bem-estar do país.
O evento juntou academia, sector privado e Governo num diálogo aberto e colaborativo visando a identificação de oportunidades e apresentação de soluções concretas adaptadas à realidade moçambicana.