
Uma contribuição para a preservação e valorização das línguas moçambicanas
Foi lançada, no dia 1 de Abril, a Gramática da Língua Ronga, intitulada “Gramatka dzra xizronga”, da autoria do Doutor Armando Magaia, docente da Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). A obra, essencialmente descritiva, está estruturada em três partes principais: a primeira aborda a fonética e a fonologia da língua ronga; a segunda trata da ortografia, com base em estudos anteriores; e a terceira dedica-se à morfologia.
O autor da obra destacou que a gramática foi escrita com o objectivo de sistematizar as regras do uso da língua ronga, facilitando a sua transmissão para as novas gerações. Magaia lembrou que todos os distritos da província de Maputo, com excepção de Magude, fazem parte do território linguístico do ronga e recordou que, no passado, pessoas provenientes das províncias de Gaza, Inhambane e outras regiões do país aprendiam e falavam o ronga fluentemente, contribuindo para a sua preservação.
A apresentação do livro esteve a cargo da Prof.ª Doutora Julieta Langa, que destacou a importância da obra como referência essencial para os estudos linguísticos em Moçambique. No entanto, enfatizou que o trabalho não deve ser visto como um fim em si mesmo, mas como um ponto de partida para aprofundamento contínuo das pesquisas sobre as línguas moçambicanas.
Na ocasião, o Reitor da UEM, Prof. Doutor Manuel Guilherme Júnior, saudou a publicação da gramática como uma valiosa contribuição para a difusão da ortografia padronizada do ronga, sublinhando que a obra representa um instrumento fundamental para a preservação e promoção desta língua para as futuras gerações.
O Reitor destacou ainda o papel da Faculdade de Letras e Ciências Sociais na valorização das línguas moçambicanas e no fortalecimento das suas ortografias padronizadas. “Esta Unidade Académica tem se destacado, de modo particular, ao longo das últimas décadas, na formação de quadros especializados no ensino de línguas, de onde se podem incluir o Cicopi, o Xichangana, o Xitshwa, o Emakhuwa, o Ximakondi, entre outras línguas faladas nativamente por Moçambicanos.”
O Secretário de Estado da Educação e Cultura, Doutor Edson Macuácua, reiterou o compromisso do Governo em continuar a desenvolver políticas e acções concretas para a valorização das línguas nacionais. Como exemplo desse esforço, mencionou o Plano Curricular do Ensino Básico, que incorpora três modalidades de ensino das línguas moçambicanas: o Programa do Ensino Bilingue, onde as línguas moçambicanas são a base do ensino; o uso das línguas moçambicanas como disciplina no programa monolíngue em português; e a utilização das línguas nacionais como recurso pedagógico quando o ensino ocorre em português.
Edson Macuácua reconheceu que, embora as acções governamentais tenham contribuído para a preservação do mosaico linguístico e cultural do país, ainda há desafios a superar. Ressaltou que a valorização das línguas nacionais deve ir além da oralidade, sendo fundamental fortalecer a sua presença na escrita e na produção de conhecimento.
O evento reafirmou a importância da documentação e do estudo das línguas moçambicanas como um passo essencial para a sua valorização e promoção no cenário educacional e cultural do país.