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Um diálogo com mulheres cientistas: Pesquisadoras reconhecem barreiras para crescerem na carreira

As mulheres cientistas reconhecem que ainda existem inúmeras barreiras para o desenvolvimento das suas carreiras académicas, dificultando o seu crescimento como pesquisadoras de sucesso.
Para enfrentar esse cenário, é necessário superar obstáculos visíveis e invisíveis, promovendo mudanças estruturais e sociais que favoreçam a equidade de género no ambiente científico. Mais do que um desafio pessoal, trata-se de uma questão colectiva, onde a contribuição das mulheres para a ciência e para a sociedade deve ser amplamente valorizada e incentivada.
Essas reflexões foram partilhadas durante o evento “Mulheres na Ciência, um Diálogo com Mulheres Cientistas”, que reuniu três investigadoras das ciências biomédicas, para discutir os desafios enfrentados pelas mulheres na pesquisa científica em Moçambique e na Espanha.
A docente e investigadora do CIB-CSIC da Espanha, Maria Montoya, destacou a necessidade de criar um ambiente propício para o crescimento das mulheres na ciência. Segundo a investigadora, “as mulheres são mais de 50% do capital científico das nações, é preciso aproveitar essa capacidade para a produção de conhecimento e inovação”.
Maria Montoya utilizou dados sobre a presença feminina na investigação científica na Espanha para ilustrar um padrão recorrente: no início da carreira, o número de homens e mulheres é equilibrado, mas com o tempo, há uma redução significativa na continuidade das mulheres na ciência. Entre os principais factores para essa evasão, estão as múltiplas responsabilidades sociais e profissionais atribuídas às mulheres, levando muitas a adiar, modificar ou abandonar a carreira científica.
A investigadora reforçou a necessidade de avaliar a situação localmente, para compreender a percentagem de mulheres que permanecem na investigação após a formação e os factores que contribuem para essa decisão. Identificar os desafios e oportunidades em diferentes fases da carreira científica das mulheres permitirá a formulação de estratégias mais eficazes para promover a equidade de género na ciência.
Para aumentar a visibilidade das mulheres cientistas, Montoya recomendou que eventos científicos e conferências priorizem a equidade de género entre os oradores, permitindo que jovens investigadoras conheçam previamente as instituições em que irão trabalhar e avaliem se o ambiente favorece o seu desenvolvimento profissional.
Por sua vez, a Directora-adjunta da Faculdade de Medicina, Prof.ª Doutora Tufária Mussá, referiu-se a alguns desafios que a mulher enfrenta para fazer investigação em Moçambique, tais como a fraca disponibilidade e difícil acesso a meios e recursos localmente; a existência de um ambiente administrativo e legal inibitórios à investigação; aumento da competitividade nacional, regional e global; excesso de tarefas e responsabilidades profissionais e sociais; e a necessidade constante de busca de motivação para continuar na carreira.
Apesar dos desafios, Tufária destacou o orgulho em desempenhar múltiplos papéis na sociedade: “sou professora, investigadora, mentora, supervisora, mãe, esposa, irmã, filha, entre outras, porque fiz dos desafios e obstáculos oportunidades para melhorar a visão do que quero e pretendo. Através das minhas acções e exemplo, quero impactar outras jovens mulheres para seguirem o mesmo caminho”.
A investigadora Nilsa de Deus enfatizou o impacto positivo que uma rede de apoio pode ter na trajetória de uma mulher na ciência. Para esta investigadora, esse suporte foi essencial para a concretização do seu sonho de infância: trabalhar em prol da saúde infantil. “Hoje sou uma mulher segura, confiante e com várias conquistas.”
O evento, que decorreu no passado dia 28 de Fevereiro, na Faculdade de Medicina, tinha como objectivo partilhar os desafios que a mulher na ciência enfrenta e quais as oportunidades para ultrapassar esses desafios, no contexto moçambicano e espanhol.