“Reconvocar Mondlane’’ para solucionar desafios do país
O Professor Severino Ngoenha defendeu que urge mobilizar a figura de Mondlane para com ele se discutir as incertezas e as dificuldades com as quais nos confrontamos como país e como povo, de modo a se reencontrar um caminho para um futuro diferente. “É como se afirmássemos que para reimaginar Moçambique, temos que imaginar a partir do local onde ele foi primeiro imaginado.”
O académico, que falava na cerimónia de lançamento da trilogia “O Eco da sua Voz”, da autoria de Janet Mondlane, aponta algumas razões para reconvocar Mondlane para o debate nacional. Primeiro, a dificuldade que se tem de viver juntos devido a pensamentos diferentes, mas não necessariamente em opostos. Ngoenha recorreu à história para mostrar que, Mondlane, sempre coabitou com figuras que não partilhavam as suas visões de vida e a sua maneira de pensar sobre o futuro de Moçambique, destacando, como exemplo, a coabitação com o seu Vice-Presidente Uria Simango: “Mondlane foi capaz de governar a Frelimo do seu tempo com Marcelino dos Santos e
Urias Simango, não obstante divergirem sobre a visão da luta armada e do futuro do país.”
Outra razão para reconvocar a figura de Mondlane é o facto de o país, actualmente, não estar a conseguir lidar com as diferenças étnicas. Mais uma vez, Ngoenha recorreu à literatura para recordar que Mondlane propunha a constituição de um Governo tendo como base as diferenças étnicas, mas com total autonomia cultural.
Severino Ngoenha aponta ainda à total ausência de ponto de vista moçambicano, sobretudo, além-fronteiras, no relacionamento com as instituições internacionais.
Mais uma vez, o filósofo reconvoca Mondlane, lembrando que este liderava um partido pequeno, sem expressão no mundo, sem qualquer comparação com Portugal, que já era membro da NATO, mas foi capaz de impor um ponto de vista, a partir do qual ele negociou com os portugueses.
Ngoenha terminou a sua intervenção referindo-se a Eduardo Mondlane como um homem cuja figura se identifica com a busca da justiça, mas que em nenhum momento foi contra as liberdades individuais.