Baixo investimento na pesquisa agrária condiciona o desenvolvimento em África
O baixo investimento na pesquisa agrária, em África, constitui o principal desafio para o desenvolvimento agrícola no chamado continente negro, uma vez que o sector agrário continua a receber menos fundos para investigação, se comparado com outros campos científicos, como as áreas da saúde e engenharias, considera o Prof. Doutor Canisius Kanangire, orador principal da 13ª Conferência sobre a Ciência Agronómica e Sociedade, que decorre, em Maputo, até 19 de Setembro corrente.
Outrossim, a alocação de 10 por cento do orçamento destinado ao desenvolvimento da agricultura, nos países africanos, é incomportável para as necessidades, sendo necessário recorrer a investimentos adicionais para a realização da pesquisa agrária e criação de capacidades internas.
O orador realça que o continente possui potencial, porém, para alcançar a aspiração da agenda da União Africana de se tornar líder global da inovação, em 2063, requer um grande avanço na tecnologia agrária, de modo a garantir o desenvolvimento necessário, tendo em conta o crescimento populacional que se espera.
O Prof. Kanangire desafia aos cientistas agrícolas a contribuirem na inovação que vai moldar a transformação da agricultura em África, pois a pesquisa agrícola é fundamental para o desenvolvimento no continente, face aos desafios das mudanças climáticas, infertilidade dos solos, pestes e doenças que afectam o sector. “A ciência agrícola pode ajudar na redução da desnutrição crónica em África, deve incentivar a industrialização, bem como desempenhar um papel importante na redução da pobreza e no apoio aos pequenos agricultores”, sublinha.
A ciência agrícola pode, igualmente, desempenhar um papel importante no crescimento de algumas áreas consideradas relevantes para o interesse nacional, tais como a economia e a educação, no entanto, requer a incorporação de ferramentas modernas, incluindo a inteligência artificial e outras novas tecnologias, acredita o conceituado Professor com mais de 20 anos de experiência na liderança de processos simulares no Continente.
Canisius Kanangire proferiu, hoje, no Centro Cultural Moçambique-China, em Maputo, uma palestra intitulada Pesquisa agrícola e inovação, resiliência e inclusão para a transformação agrícola.
Na abertura, o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Prof. Doutor Daniel Daniel Nivagara, disse que a realização do evento é um reconhecimento de que a segurança alimentar e nutricional, em África, só é possível com o avanço da tecnologia, ferramentas essenciais para o desenvolvimento das nações.
Citando o último Relatório da Agência das Nações Unidas para Alimentação, fez saber que cerca de 700 milhões de pessoas no mundo passaram por situações de fome no mundo, em 2023, e espera-se que, até ao final da década, 500 milhões de pessoas no planeta estejam em situações de desnutrição crónica sendo, mais da metade, em África.
Segundo o Ministro, os dados mostram que apesar dos avanços registados no combate à fome, alcançar a meta de fome zero, em 2030, segundo os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), constitui uma missão desafiadora.
Nesse sentido, para o dirigente, o papel da ciência, tecnologia e inovação é inquestionável, visando a adopção de novas práticas agrícolas. “Por isso, encorajamos esta conferência para que ela seja parte fundamental da nossa reflexão, de forma que a agricultura que queremos fazer, em Moçambique, seja cada vez mais próspera.”
Na ocasião, o Reitor da UEM, Prof. Doutor Manuel Guilherme Júnior, destacou os objectivos da conferência, nomeadamente a contribuição da investigação e inovação agrícola para a transformação agrícola em África, com ênfase em Sistemas de produção agrícola para uma produção sustentável, economicamente viável e eficiente, desde a sementeira até ao processamento, comercialização e consumo; Resiliência para reduzir o impacto das alterações climáticas, dos riscos naturais e dos desastres relacionados com o clima; bem como a Inclusão para a participação das mulheres e dos jovens na agricultura e no mercado.
O evento junta mais de 400 cientistas e inovadores, agricultores, empresários e agroindústrias, educadores e decisores políticos envolvidos em cadeias de valor relacionadas com a agricultura, provenientes de 25 países de África, que vão discutir, no Campus Principal da UEM, em Maputo, temáticas ligadas a transformação agrária, resiliência e inclusão.