Investigadora recomenda estudos sobre intoxicação por plantas
A investigadora da UEM, Dr.ª Natércia Fernandes, defendeu que a intoxicação por remédios tradicionais é pouco estudada e divulgada em Moçambique, devido à falta de recursos para a investigação, aliada à ausência de métodos para a identificação clara das plantas usadas bem como a detenção de toxinas fitoterápicas.
Geralmente, as plantas utilizadas, na medicina tradicional, explica a investigadora, têm sido consideradas seguras devido à longa história de utilização no tratamento de doenças, com base no conhecimento acumulado ao longo de vários séculos. “Contudo, existe um equívoco generalizado de que tudo o que é natural é sempre seguro. Uma crença comum é que os remédios de origem natural são sempre inofensivos e sem risco. Em alguns países, como Brasil, existe uma consciência da necessidade de documentar os casos de intoxicações, a fim de verificar a contribuição dos remédios tradicionais.”
A investigadora falava, recentemente, no âmbito da Primeira Edição do Simpósio Nacional sobre Etnobotânica, destacando que, a população moçambicana, ainda recorre frequentemente a indivíduos que usam remédios tradicionais, alguns com base em plantas, para tratar várias doenças, considerando, deste modo, fundamental estar-se atento aos seus efeitos tóxicos, a médio e longo prazos.
Natércia Fernandes destacou que, para reduzir os casos de intoxicação por plantas, é necessário documentar-se os casos, demostrando as plantas que causaram este mal ou que são potencialmente tóxicas. Para o efeito, é imprescindível “garantir a existência de laboratórios, equipados e com pessoal treinado para identificar as toxinas nessas plantas”.
No mesmo simpósio, a Dr.ª Telma Magaia, também investigadora da UEM, aflorou os desafios para avaliação química e nutricional de produtos desenvolvidos com base nas plantas, entre as quais a aquisição de instrumentos de tecnologia avançada, o acesso a métodos analíticos recentes, bem como a precisão e a fiabilidade dos resultados.
“Devemos incrementar a capacidade de análises laboratoriais nacionais para avaliar o potencial nutricional destes produtos, ter uma boa colaboração no uso de instrumentos laboratoriais e deve também haver mais seminários e debates de técnicos e pesquisadores, para permitir a troca de experiência na área de laboratórios”.
A investigadora alertou que, em Moçambique, existem diversas instituições dedicadas à pesquisa científica, incluindo universidades, que devem desempenhar um papel crucial no estudo e desenvolvimento de recursos naturais, com destaque para plantas e frutas nativas.