Fortaleza de Maputo expõe “UPCycles 2024”
A exposição UPCycles 2024, patente na Fortaleza de Maputo, apresenta obras criadas a partir da premissa da reutilização e ressignificação de arquivos, com temáticas que interrogam sobre o património cultural, migrações, memória e identidade.
As obras de artistas emergentes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, nomeadamente Fernando Kahombo e Hélio Buite, de Angola, e Lillian Benny e Phayra Baloi, de Moçambique, foram desenvolvidas durante a quarta edição da Residência Criativa Audiovisual, em processos complementares à distância e presencial.
Segundo o curador da Fortaleza, Moisés Timba, nesta exposição, os artistas são desafiados a construir narrativas que contemplam a componente audiovisual. “É um trabalho de pesquisa, há uma tutoria que faz o acompanhamento de todos estes trabalhos e, cada artista, tem um tutor, mas também tem um tutor geral do próprio projecto. Há também uma assessoria externa, todos eles a olharem para que o trabalho tenha qualidade e exigência recomendada para este tipo de arte”, afirmou.
A exposição contempla obras como “Corpos de Guerra”, trabalho artístico de Fernando Kahombo, que mergulha nas profundezas da experiência humana em meio a colonização e conflitos em Angola. Explorando temas como identidade, memória e poder, a narrativa acompanha a jornada do artista, através das memórias de guerra dos seus pais.
“Memórias traumáticas da guerra são confrontadas, ressaltando a importância da cura e reconciliação. A leitura emerge como uma ferramenta de resistência e autodescoberta, enquanto a complexidade das relações entre colonizador e colonizado é explorada com nuances. O texto desafia as noções convencionais de tempo, intercalando entre o passado, presente e futuro, oferecendo uma reflexão profunda sobre a natureza humana e a história angolana”, escreve Fernando Kahombo, explicando que a obra é, apesar de tudo, uma chamada a reflexão ao iminente exercício de reconciliação nacional.
Por sua vez, a obra “Uma ode ao retorno” é um encontro com o ser, um desvendamento e reconstrução de um arquivo familiar.
“A instalação traça uma viagem através de um mapa, explorando sentidos de pertencer e de lar, que é uma questão pertinente quando alguém existe entre dois mundos divididos por fronteiras invisíveis. A vídeo instalação apresenta imagens de colagem com a incorporação de cartografia e som e o testemunho da minha mãe sobre a sua jornada de migração, trazendo à tona o culminar da história das mulheres no processo de migração e centralizando novamente o olhar, através do uso de imagens e áudio do filme Makwayela de Jean Rouch (1978)”, escreve a autora Lillian Benny.