“Projecto BioFish promove pesca sustentável no estuário de Bons Sinais”
Dr. Jeremias Mocuba, coordenador do projecto
A Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras da Universidade Eduardo Mondlane (ESCMC), em
parceria com o Centro de Ciências do Mar da Universidade de Algarve (Portugal) e o Instituto
Oceanográfico de Moçambique, está a desenvolver um estudo denominado BioFish, que visa
melhorar a qualidade de vida das comunidades de pescadores no Estuário dos Bons Sinais.
Este estuário é utilizado diariamente por populações locais altamente dependentes da pesca, tanto
como fonte de rendimento como de alimento (pesca de subsistência). Segundo o coordenador local
do projecto, Dr. Jeremias Mocuba, apesar da importância das pescarias na área, as informações
científicas são escassas (biológicas, ecológicas ou socioeconómicas) sobre a pescaria que apoiem um
plano de maneio sustentável e de longo prazo baseado no ecossistema. As limitações do
conhecimento sobre o estado dos recursos e fragilidades na gestão associadas ao aumento da
população ao longo das áreas estuarinas podem trazer várias implicações nos ecossistemas, com
consequentes impactos socioeconómicos e da biodiversidade.
Dr. Jeremias está a coordenar um projecto de pesquisa denominado BioFish. Qual é o objectivo
desse projecto?
O objectivo do projecto é desenvolver colaboração científica entre as instituições envolvidas,
nomeadamente a UEM, através da ESCMC, a Universidade do Algarve, por via do Centro de Ciências
do Mar (CCMAR) e o Instituto Oceanográfico de Moçambique (InOM); e promover a capacitação de
quadros das instituições participantes em matéria das pescarias e aumentar o conhecimento da
Biologia, Ecologia dos recursos pesqueiros e os aspectos socioeconómicos no Estuário dos Bons
Sinais.
O que motivou o desenvolvimento desse estudo e nas zonas escolhidas?
O que motivou o estudo foi o grande potencial de recursos pesqueiros no estuário, mas pouco
conhecimento da Biologia de quase a totalidade das espécies exploradas e o uso de artes não
recomendadas. O projecto surge com o espírito de dar um contributo no conhecimento científico e,
também, através da educação ambiental promover a pesca sustentável, o que pode contribuir para a
melhoria da qualidade de vida das comunidades piscatórias.
O projecto está no fim. Que avaliação faz das actividades desenvolvidas ao longo dos três anos?
O balanço é positivo, tendo em conta que alcançamos os objectivos definidos, mais especificamente
foi feita uma inventariação das espécies de peixe do estuário, foram feitos estudos sobre
distribuição, capturas, reprodução, artes de pesca e estudos socioeconómicos. Também
promovemos campanhas de educação ambiental junto das comunidades piscatórias. Os resultados
das pesquisas científicas mostraram que o estuário é berçário de várias espécies de peixes,
caranguejos e camarões, que o usam como local de crescimento antes de retornarem ao mar aberto
onde completam o seu ciclo de vida.
Estes aspectos são importantes para a gestão das pescarias e conservação do ecossistema como um
todo. Foram publicados dois artigos científicos sobre a Biologia das espécies de peixes mais
importantes do ponto de vista socioeconómico.
Que metodologia foi usada para interacção com as comunidades? Qual é a situação actual da
pesca nessas comunidades abrangidas?
Privilegiamos o contacto directo com os líderes comunitários, pescadores e autoridades locais. No
início, foram realizados encontros na ESCMC para apresentação e discussão do projecto perante as
autoridades da província, instituições que zelam das pescas, líderes comunitários, pescadores,
estudantes e alunos. Os trabalhos de investigação sobre os recursos pesqueiros envolveram os
pescadores, compradores e revendedores. Foram realizadas campanhas de educação ambiental nas
comunidades piscatórias para promoção da pesca sustentável.
Quais são os desafios encontrados durante a realização do projecto?
O maior desafio foi o facto de a realização do projecto ter sido afectado pela Covid-19, que fez
atrasar algumas tarefas. Já no final do projecto, algumas acções sofreram atrasos devido à passagem
do Ciclone Freddy, em Quelimane. Fora desses dois factores, não houve constrangimentos a
assinalar e houve boa colaboração por parte dos pescadores e as comunidades locais.
O projecto inclui também a componente de formação académica. Quantas pessoas foram ou estão
a ser formadas e em que níveis?
A formação serviu para dotar aos investigadores, docentes e estudantes de capacidades para
realizarem, de forma independente, investigação e extensão sobre os recursos pesqueiros. Houve
dois tipos de formação: uma para obtenção de graus académicos e outra de curta duração. Para
obtenção de graus académicos, foram formados seis estudantes de licenciatura, que participaram
nas tarefas do projecto e tiveram facilidades na realização dos trabalhos de culminação de curso
(monografias). Há ainda dois estudantes que irão terminar a formação (as monografias) ainda este
ano, o que irá totalizar oito estudantes de licenciatura. No nível de doutoramento, são dois docentes
que estão ainda em formação na Universidade do Algarve (Portugal) que, além do financiamento
directo dos trabalhos das teses, fizeram viagens à Portugal, para troca de experiências e formação
complementar em técnicas de investigação.
Houve três ciclos de cursos de curta duração em estatística aplicada a Biologia pesqueira que
beneficiou docentes, estudantes e técnicos do instituto oceanográfico de Moçambique.
Quais são os planos futuros no âmbito da implementação deste projecto?
A fase de implementação do projecto já terminou. Neste momento, estamos a finalizar os relatórios
técnicos para entrega aos financiadores. Em termos de divulgação dos resultados, estamos a finalizar
a edição de um livro que retrata as pescarias do estuário dos Bons Sinais, as comunidades piscatórias
e os aspectos socioeconómicos. Também estão em preparação vários artigos científicos que vão
complementar a informação do livro. Estamos a envidar esforços para a curto e médio prazo
mobilizarmos fundos que nos permitam realizar trabalhos de investigação semelhantes em outros
estuários da província e do país.