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Microplásticos ameaçam vida marinha e segurança alimentar na Baía de Pemba

Afirma Shakira Silva, estudante da ESCMC

A Baía de Pemba é reconhecida como uma das regiões marinhas mais ricas e ecologicamente importantes do país. Com uma biodiversidade notável e um dos maiores sistemas de recifes de coral do território nacional, esta baía tem sido fonte de sustento e proteção para as comunidades costeiras que dela dependem. No entanto, recente estudo científico acende um sinal de alerta em relação à crescente ameaça representada pelos microplásticos presentes nesse ecossistema.
O trabalho intitulado “Evidência de Microplásticos na Baía de Pemba”, realizado pela estudante Shakira Silva, finalista de Oceanografia na Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras da UEM, com apoio do laboratório de Oceanografia da Escola, analisou a presença de microplásticos em amostras de sedimentos e água recolhidas em diversos pontos da baía. Os resultados revelaram a existência de mais de 128 partículas de microplásticos, principalmente do tipo fibra, com implicações sérias para a vida marinha, a cadeia alimentar e, consequentemente, a saúde das populações locais.
Nesta breve entrevista, a jovem investigadora defende medidas urgentes de mitigação e maior sensibilização ambiental como passos fundamentais para conservar este ecossistema vital.

Shakira, o que a motivou a escolher a Baía de Pemba como foco da sua pesquisa?

A escolha da Baia de Pemba surgiu a partir de um convite para integrar um projecto multidisciplinar que procurava estudar os impactos ambientais em ecossistemas costeiros de Moçambique. Ao conhecer esta região, percebi a sua relevância ecológica e socioeconômica como a dependência das comunidades locais da pesca e o risco
crescente da poluição por microplásticos, um problema ainda pouco estudado nessa área específica. Decidi aprofundar essa temática no meu Trabalho de Culminação do Curso e contribuir de forma significativa com dados locais para a comunidade científica, dados
estes que poderiam servir para apoiar políticas de conservação da região.

Pode explicar, de forma simples, o que são microplásticos e por que são considerados uma ameaça tão séria?
Microplásticos, como sugere o nome, são pequenas partículas de plásticos, que apresentam dimensões inferiores a 5mm em relação ao plástico normal, fruto da degradação de plásticos maiores. Esta ameaça é tão séria, pois os microplásticos podem causar danos irreversíveis no ambiente marinho, desde a contaminação de espécies, colocando em risco a saúde dos que dependem destes organismos para a sua
sobrevivência bem como a perda da biodiversidade.

A Baía de Pemba é conhecida pela sua biodiversidade. Qual a importância ecológica desta região para Moçambique?
Esta região é importante pois abriga um dos maiores sistemas coralinos do País, que servem de habitat para várias espécies protegidas e importantes como tartarugas marinhas, golfinhos, dugongos, baleias, entre outras.

O estudo identificou mais de 128 partículas de microplásticos. Esse número foi surpreendente para si ou já era algo esperado?

Foi surpreendente!
A maioria das partículas encontradas eram do tipo fibra. O que isso nos diz sobre as fontes prováveis de poluição na baía?
Este tipo de microplástico encontrado em abundância sugere como fonte principal a intensa actividade de pesca praticada na região.

De que forma esses microplásticos podem afetar a vida marinha e a saúde humana?
Os microplásticos afectam os ecossistemas marinhos de várias formas: ingestão por organismos marinhos – os organismos marinhos confundem microplásticos com alimento, levando a obstrução intestinal, falsa sensação de saciedade, desnutrição e morte; bioacumulação na cadeia alimentar – o que significa que os peixes pequenos ao ingerir microplásticos podem ser posteriormente comidos por predadores maiores (incluindo espécies comerciais), causando distúrbio na cadeia trófica; ingestão humana – os microplásticos podem ser facilmente ingeridos pelos seres humanos, através do consumo de peixes contaminados, ou seja, peixes que tenham ingerido estas partículas
causando doenças cancerígenas ao homem.

Quais são os potenciais impactos económicos e ambientais a longo prazo?
Os potenciais impactos incluem prejuízos à pesca e aquacultura, o que significa que a contaminação de peixes e mariscos pode reduzir a qualidade e segurança dos produtos, afectando vendas e exportações, estes prejuízos incluem também a perda de habitats e
danos a corais e plâncton.

Que medidas, na sua opinião, poderiam ser tomadas para mitigar a presença de microplásticos na Baía de Pemba?
As medidas passam por melhorar a colecta e tratamento de lixo, implementando sistemas eficientes de colecta selectiva, especialmente em áreas urbanas próximas à baía (como a cidade de Pemba), construção de aterros sanitários controlados. Outra forma de
mitigar esta situação seria a conscientização ambiental promovendo campanhas nas escolas, comunidades, sobre os efeitos irreversíveis da poluição por plásticos no mar, de modo a orientar a população a não poluir o ambiente marinho, promover campanhas
de limpeza costeira, mobilizando voluntários para remover resíduos ao longo das zonas costeiras.