
Investigadores da UEM apostam na intensificação agroecológica
Num contexto global de instabilidade alimentar, agravado pelo crescimento populacional, escassez de recursos naturais e efeitos das mudanças climáticas, investigadores da Faculdade de Agronomia e Engenharia Florestal (FAEF), da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), estão a defender o cultivo consociado como uma solução sustentável e eficaz para reforçar a segurança alimentar em Moçambique e
na região da África Subsaariana.
A proposta foi apresentada na passada Quarta-feira, durante um Seminário Científico dedicado ao Projecto de Desenvolvimento de Cultivos Consociados para a Cadeia de Valor Agroalimentar Sustentável, que decorre no âmbito do projecto internacional IntercropValueES.
O cultivo consociado, também conhecido como cultivo misto, consiste na prática de plantar, na mesma área e de forma simultânea, diferentes espécies agrícolas que se complementam. Esta técnica, tradicional em muitas culturas camponesas, tem ganho destaque no meio científico por demonstrar elevada eficiência no uso de recursos naturais, como água e nutrientes, ao mesmo tempo que contribui para o equilíbrio
ecológico e o aumento da produtividade.
Para o Prof. Doutor João Nuvunga, docente e investigador da FAEF, a realidade da agricultura moçambicana exige soluções adaptadas ao contexto local.
Na África Subsaariana, predomina uma agricultura de pequena escala, de subsistência, com baixos insumos e métodos agroecológicos. O rendimento tende a ser baixo, “principalmente devido a limitação de água e de nutrientes no solo, o que se justifica pelo contínuo cultivo dos solos sem a devida irrigação, um problema que se agrava com o aumento da população e consequentemente aumenta igualmente a procura de recursos e alimentos”.
Nesse sentido, o investigador defende a intensificação ecológica como caminho possível e urgente: “aqui, certos ecossistemas já existem e muitas culturas estão bem-adaptadas em detrimento de provisão, o que significa a colocação de insumos e outros meios que podem alavancar a agricultura”, clarificou.
Por sua vez, o Prof. Doutor Sebastião Famba, também investigador da FAEF, destacou que Moçambique está a participar activamente no Projecto IntercropValueES, uma iniciativa de quatro anos financiada pela União Europeia, coordenada pelo Governo da França e apoiada por 27 organizações internacionais.
Famba acrescentou que o projecto pretende ainda constituir uma rede representativa de actores da cadeia de valor agroalimentar, promovendo um espaço de diálogo contínuo entre agricultores, investigadores, instituições públicas e privadas, através de fóruns
como seminários, workshops e reuniões técnicas.
Com o apoio internacional e o envolvimento directo da academia moçambicana, os investigadores acreditam que o cultivo consociado poderá ser uma das chaves para combater a crise alimentar, promover a resiliência climática e dinamizar economias locais, com base em conhecimento científico, práticas sustentáveis e participação comunitária.