
Trabalhadoras do sexo entre os grupos mais propensos a coinfecção por hepatite B
As trabalhadoras do sexo estão entre os grupos mais vulneráveis e propensos a coinfecção pelo vírus da hepatite B (VHB) e HIV, em Moçambique, com três vezes mais probabilidades, revela uma pesquisa intitulada “Perfil epidemiológico, clínico e virológico da infecção por hipatite B em indivíduos coinfectados por HIV na cidade de Maputo”, da autoria da investigadora Lúcia Mabalane Chambal, apresentado na Quinta-feira (27/11), na Faculdade de Medicina, durante a sua defesa para a obtenção do grau de Doutora em Biociências e Saúde Pública.
No geral, o estudo constatou que o sexo masculino tem 72 por cento de probabilidades de ser coinfectado pelo vírus da hepatite B do que o sexo feminino.
A pesquisa, realizada entre Maio de 2021 e Novembro de 2023, tinha como objectivo descrever o perfil epidemiológico, clínico, laboratorial e os desfechos aos 12 meses de doentes com coinfecção por HIV/VHB e monoinfectados com HIV, a iniciar a terapia anti-retroviral na cidade de Maputo.
Entre as formas de transmissão, 73 por cento ocorre devido a partilha de objectos cortantes, 48 por cento por contacto sexual desprotegido, 29 por cento durante a transfusão de sangue e 19 por cento na transmissão vertical. As formas de prevenção são o uso do preservativo e a vacinação.
A hepatite B é uma infecção viral do fígado causada pelo vírus da hepatite que pode ser classificada em aguda ou crónica. Na forma crónica, pode evoluir para cirrose e insuficiência hepática.
A investigadora fez saber que, cerca de 254 milhões de pessoas no mundo, vivem com a doença. Por ano, estima-se que ocorram 1.2 milhões de novas infecções.
Entretanto, notou que, Moçambique, ainda não dispõe de um estudo global e aprofundado que retrate a situação geral da hepatite B, mas existem pesquisas localizadas e muito específicas que variam de região para região, estando a doença muito alta em regiões com maior prevalência do HIV.
Um inquérito realizado a profissionais de saúde, no âmbito do estudo, identificou lacunas críticas como a ausência de rastreio da doença, prevenção e tratamento de rotina para VHB e insuficiência de conhecimento, práticas para cuidados integrados.
Nesse sentido, o estudo recomenda a integração do rastreio VHB nos serviços de HIV com primazia aos grupos de altos riscos; assegurar a TARV com dois agentes activos contra a VHB para coinfectados e monitorização adequada em cuidados de saúde primários; intensificar intervenções de retenções para coinfectados, jovens e pessoas severamente imunodeprimidas.
Recomenda ainda a capacitar profissionais de saúde e implementar políticas específicas para coinfecção HIV-VHB; mitigar os factores não virais de doença hepática (álcool e aflatoxinas); implementar sistemas de monitoria e avaliação e financiamento sustentável para serviços integrados HIV/VHB.
A pesquisa teve como campo de estudo o Centro de Saúde de Mavalane, cuja população de estudo foram portadores de HIV recém diagnosticados, maiores de 18 anos e que ainda não foram submetidos ao TARV.
