
Pesquisa denuncia excesso de prescrição de antibióticos nas unidades sanitárias
-Penicilinas e Sulfonamida no topo da lista
Há uma frequência relativamente alta da prescrição de antibióticos, no país, com maior incidência para as infecções do trato respiratório, observa um estudo intitulado “Implementação de um algoritmo de tratamento de infecções respiratórias agudas em pacientes adultos HIV positivos nos Cuidados de Saúde Primários das Cidades de Maputo e Matola”, da autoria do investigador Cândido Faiela, apresentado no âmbito da sua defesa para a obtenção do grau de Doutor em Biociências e Saúde Pública.
Segundo a pesquisa, as classes das penicilinas e sulfonamida foram os antibióticos mais prescritos. A frequência de prescrição de antibióticos é de cerca de 65 por cento, muito acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que recomenda apenas para 20 a 26 por cento nas prescrições médicas.
Do trabalho realizado em unidades sanitárias das cidades de Maputo e Matola, constatou que, 34 por cento das prescrições médicas, não tinham nenhum tipo de antibiótico. Entretanto, 48.2 por cento das prescrições analisadas pela pesquisa continham pelo menos 1 antibiótico; 12 por cento com 2 tipos de antibióticos na mesma prescrição; 3.3 por cento com 3 antibióticos; e 2.4 por cento das prescrições médicas chegaram a ter até 4 antibióticos na mesma prescrição.
O investigador afirmou que os antibióticos são amplamente prescritos em excesso para tratar infecções de trato respiratório, apesar de fortes evidências da sua origem viral. Ademais, fez saber que 90 por cento dessas infecções se dissolvem sem complicações para o paciente, tornando o tratamento com antibióticos desnecessário e não recomendado.
Notou que as prescrições do trato respiratório são a principal razão para a prescrição de antibióticos em adultos infectados pelo HIV. Todavia, evitar o uso desnecessário de antibióticos nesses pacientes reduzirá a probabilidade de interacções medicamentosas e eventos adversos. Pelo que, o estudo recomenda o desenvolvimento de estratégias para reduzir o uso desnecessário em unidades de cuidados de saúde primários que atendem indivíduos infectados pelo HIV.
Alerta que pacientes com sistema imunológico enfraquecido podem sofrer consequências adversas devido ao uso desnecessário de antibióticos, aumentando assim a sua suscetibilidade a infecções.
A pesquisa constatou, ainda, que, em Moçambique, o tratamento de infecções respiratórias dos Cuidados de Saúde Primários é predominantemente empírico e inclui, na maioria dos casos, o uso de antibióticos.
A pesquisa realizada em 31 unidades sanitárias de 10 postos administrativos das cidades de Maputo e Matola tinha como objectivo avaliar a efectividade e a implementação de um algoritmo de suporte à decisão clínica no tratamento de infecções do trato respiratório superior em adultos infectados pelo HIV.
O estudo conclui que a falta de ferramentas de suporte aos clínicos no tratamento de infecçõoes respiratórias e as limitações das capacidades laboratoriais justificam a utilização de um algoritmo para mediar as consultas, tendo a pesquisa recomendado que o algoritmo deve ser implementado com a supervisão dos provedores de saúde e uma auditoria na prescrição de antibióticos.
Entretanto, os provedores de saúde devem ser capacitados antes do lançamento da intervenção para padronizar o processo de implementação.
A pesquisa recomenda que os próximos investigadores se dediquem a realizar uma análise económica e de custo-efectividade da intervenção de um algoritmo em comparação com o tratamento de rotina, a fim de apoiar decisões políticas e de investimento baseadas em evidência.
