
Painelistas reconhecem contributo da mulher no avanço da ciência e inovação no país
Três mulheres de diferentes gerações, reunidas na mesa-redonda intitulada “50 anos da mulher no desenvolvimento da ciência: conquistas, desafios e perspectivas (Experiência Africana)”, foram unânimes em reconhecer que, nos últimos 50 anos, houve avanços significativos para a participação feminina na ciência em Moçambique. O debate integrou o ciclo de pré-eventos da XIII Conferência Científica da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que decorre de 16 a 19 de Setembro, em Maputo.
As painelistas – Prof.ª Doutora Ezra Nhampoca, actual Diretora da Escola de Comunicação e Artes (ECA); Doutora Iara Gomes, investigadora do Centro de Biotecnologia da UEM; e Mestre Joaquina Muchinga Fernandes, gestora do Programa Kucula Women – apontaram como conquistas a presença cada vez maior das mulheres em todas as áreas da academia, reflectida na participação em conferências nacionais e internacionais e na crescente produção científica. No entanto, reconheceram que o patriarcado ainda estrutura a academia, impondo barreiras visíveis e invisíveis que limitam a actuação feminina.
A investigadora Iara Gomes destacou que, embora as mulheres tenham conquistado espaço na docência e nos laboratórios, continuam a enfrentar um peso emocional acrescido pela divisão desigual das responsabilidades domésticas. “Eu tive que fazer mestrado e, ao mesmo tempo, cuidar de duas crianças pequenas. Na altura, até pensei em desistir” – desabafou. Para esta painelista, além das pressões familiares, existem obstáculos institucionais como a burocracia e os critérios de avaliação académica que desconsideram as diferenças de género, contribuindo para a invisibilização das mulheres na ciência. “Muitas vezes, abdicamos de oportunidades promissoras para permanecer perto da família, ou adiamos o crescimento profissional até que os filhos cresçam”, acrescentou.
Por sua vez, Ezra Nhampoca defendeu que a mulher académica deve continuar a lutar para deixar um legado sólido às gerações futuras, incentivando a inserção feminina nas áreas de investigação e promovendo uma ciência transformadora, baseada na liberdade e na mudança social.
Por outro lado, Joaquina Muchinga Fernandes partilhou a experiência do Kucula Women, programa que incentiva novas formas de produção de conhecimento ao combinar ciência formal, redes digitais e práticas locais de partilha. Para a investigadora, esse processo enriquece a ciência ao integrar saberes comunitários que muitas vezes ficam de fora das metodologias académicas tradicionais.
As três painelistas concluíram que, apesar dos desafios persistentes, as mulheres continuam a ser protagonistas no avanço da ciência e da inovação em Moçambique, contribuindo de forma decisiva, para o desenvolvimento do país.
Na abertura da mesa-redonda, a Directora do CeCAGe, Prof.ª Doutora Gracinda Mataveia, sublinhou que a reflexão visava compreender o lugar, o papel e as perspectivas da mulher na ciência para o desenvolvimento, contribuindo, assim, para a valorização do seu contributo e para o combate aos estereótipos de género e normas sociais que ainda restringem a sua visibilidade no espaço académico.