Abundância dos recursos naturais em si não é factor de desenvolvimento
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- Criado em 23-09-2015
O Economista e docente da Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane, Dr. Matias Farahane, disse há dias que Moçambique deve ser cauteloso em relação a expetactiva que coloca nos recursos naturais como garantia para o seu desenvolvimento, pois, quanto a ele, existem evidências que mostram que a abundância de recursos em si não é factor determinante para o crescimento de um país.
Apontou exemplos de vários países que sendo ricos em recursos naturais, experimentaram taxas de crescimento muito baixas.
Segundo ele, a teoria económica identifica três canais através dos quais a abundância dos recursos naturais pode conduzir a um desempenho pobre da economia. Trata-se da volatilidade dos preços dos produtos básicos nos mercados internacionais, que pode afectar o crescimento económico de um país; os efeitos da chamada "doença holandesa``. Neste caso, a abundância de reursos naturais pode levar a uma apreciação da taxa de câmbio. Este factor pode impedir a competitividade dos outros sectores de actividade levando a uma redução do crescimento económico; E um terceiro factor, as fragilidades institucionais, que podem levar a um desempenho pobre das economias.
Contudo, o economista garantiu que Moçambique ainda não foi afectado pela "doença holandesa" mas pode estar a sofrer de factores exógenos, que contribuem para a actual depreciação do metical. “Sobre estes aspectos os economistas nacionais nada podem fazer, é difícil de controlar", frisou.
Matias Farahane falava em palestra na Faculdade de Economia, no decurso das Jornadas Científicas, com o tema a “Maldição dos Recursos Naturais em Moçambique”. O orador desenvolveu um trabalho onde aborda a questão da maldição dos recursos naturais. Segundo ele, muitas teorias económicas afirmam que a abundância dos recursos naturais num país simboliza “bênção”, porque estes podem experimentar altas taxas de crescimento. Mas a evidência empírica sugere que muitos países que têm recursos naturais abundantes não cresceram rapidamente como as teorias económicas previam. Pelo contrário, experimentaram taxas muito baixas de crescimento.
Sobre o actual estágio caracterizado pela depreciação do Metical, o palestrante disse ser resultado do excesso da procura da moeda estrangeira sobre a oferta da moeda nacional. Com efeito, Dr. Farahane sugere a tomada de medidas para reduzir a procura da moeda estrangeira. “As pessoas procuram moeda estrangeira porque querem realizar transações que envolvem importação de bens. O problema é que o nosso país importa quase tudo”, disse, acrescentado que o Governo tem mecanismos que podem desencorajar a importação de bens que também são produzidos internamente.
Para tal, segundo o economista, o executivo pode recorrer a um instrumento de política comercial que lhe permite o aumento das tarifas aduaneiras que recaem sobre a importação desse tipo de bens. "Se as tarifas forem muito elevadas, os preços do tomate, do pão, serão muito elevados aqui em Moçambique e ninguém vai querer comprar", disse.