Formação de professores foi a espinha dorsal que assegurou o funcionamento do Estado, considera Graça Machel
- Detalhes
- Criado em 30-09-2014
A formação de professores foi a espinha dorsal que assegurou o efeito multiplicador de reprodução de quadros para assegurar o funcionamento e a construção do Estado, disse Graça Machel, activista social e membro do Conselho Universitário da Universidade Eduardo Mondlane, falando em palestra sobre o "Pensamento de Samora Machel sobre o ensino superior em Moçambique", havida ontem, 29 de Setembro, data que coincidiu com aniversário do antigo presidente de Moçambique.
Falando na UEM para uma plateia composta maioritariamente por estudantes de diversas instituições do Ensino Superior da Cidade de Maputo, Graça Machel afirmou que o pensamento de Samora Machel sobre o ensino consistia na centralidade do papel da educação no processo de construção do Estado para o desenvolvimento do país. Um outro grande pensamento de Samora era de que a formação de quadros superiores não era uma atitude neutra, tinha que convergir com as necessidades do país.
Segundo Graça Machel, o antigo Presidente de Moçambique percebeu a necessidade de formação de filhos dos antigos guerrilheiros que estiveram envolvidos na luta de libertação nacional, filhos de camponeses e de operários. Esta acção visava a implementação de uma outra visão de Samora Machel, que consistia em "fazer da escola a base para o povo tomar o puder".
A palestrante disse que no contexto actual, os estudantes são livres de escolher os cursos que pretenderem frequentar, mas que naquela altura o presidente Samora não permitiu escolhas por culpa das necessidades estratégicas de algumas áreas como agronomia, engenharias, veterinária, medicina e a formação de professores. Esta última visava multiplicar e acelerar o ensino secundário.
Acrescentou que aquando da independência nacional, o Governo herdou um índice de analfabetismo dos mais altos do continente africano, onde 93 por cento da população não sabia ler nem escrever. Por conseguinte, a educação foi definida desde logo como uma frente estratégica de ampliar o sentido de liberdade para que se pudesse abraçar o conhecimento e o mundo com os instrumentos que o conhecimento científico fornece.Foi um período histórico em que se assistiu a massificação da alfabetização com o contributo dos trabalhadores que ao fim da sua jornada laboral ensinavam as populações a saber ler e escrever. Referiu que foi graças a este esforço que 5 anos depois, o analfabetismo foi reduzido em 21 por cento. "Esta redução não foi obra do Governo, foi do povo sob liderança do governo", indicou.
Afirmou que hoje, o ensino superior não deve limitar-se apenas na sua massificação, deve expandir-se com qualidade, de tal forma que permita os formados enquadrarem-se em qualquer parte do mundo.
Segundo ela, a independência já não é uma questão política, “ela hoje define-se pela capacidade de controlar e dirigir os sectores estratégicos do desenvolvimento do país”.
Considerou haver um desajustamento de prioridades na formação de moçambicanos. Deplora que muitas Universidades em moçambique continuem a formar massivamente quadros nas áreas de Gestão, Direito e outros, num contexto em que moçambique continua a importar, em grande escala, produtos de primeira necessidade.
Por outro lado, considera que o ensino superior moçambicano deve formar quadros altamente qualificados que sejam capazes de competir com técnicos de qualquer parte do mundo.
A esposa do antigo presidente da então República Popular de Moçambique explicou aos estudantes, que acolheram em massa à palestra, que dada urgência de formação de moçambicanos, o Presidente Samora Machel convidou aos jovens que na altura frequentavam o 2º ciclo do ensino secundário a interromperem os cursos regulares para frequentarem os cursos propedêuticos. "Os melhores professores tinham que formar esses jovens no mais breve espaço de tempo, como forma de prepará-los para entrarem no ensino superior em áreas já definidas pelo governo," acrescentou.
Segundo Graça Machel, este acto pretendia reorientar os jovens a seguirem cursos do ensino superior que fossem prioritários para o país.
Considera que apesar do avanço na educação com a redução do analfabetismo era preciso formar quadros altamente qualificados para garantir todo o sistema de educação. Afirmou que o ensino superior teve um efeito multiplicador que permitiu alavancar a todos nessa conquista de um bem comum.
Foi assim que milhares de jovens seguiram para Cuba, ex-União Soviética e ex-República Democrática Alemã (RDA), a fim de serem formados. Estes quadros moçambicanos regressaram ao país e assumiram o poder. Graça Machel afirmou que o objectivo era exactamente a formação de quadros que pudessem dirigir o país.