“Estamos apostados na elaboração e implementação do Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos”
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- Criado em 15-05-2023
- Eng.° Paulo Pacela, investigador do CEISA
Na entrevista que segue, o investigador apresenta também a sua visão sobre a gestão de resíduos sólidos na cidade de Maputo, apontando falhas na implementação do Plano Director de Gestão de Resíduos e a Postura Camarária, cenário que se verifica não apenas na capital do País.
Como académico, como avalia a questão da limpeza na cidade de Maputo?
A gestão de resíduos sólidos, na cidade de Maputo, aparentemente, está a melhorar. Tenho visto alguma preocupação do Município em adquirir meios e também algumas acções de educação ambiental, mas ainda são muito básicas.
A nível da recolha, continua uma gestão deficiente e tenho visto, infelizmente, muito lixo nos passeios, mesmo nos locais de colocação do lixo, com muito resíduo fora dos contentores.
Na verdade, falta a execução de muitas acções que estão previstas em muitos instrumentos que falam da gestão de resíduos sólidos a nível do país e do Município, em particular. Existe um Plano Director de Gestão de Resíduos e a Postura Camarária, mas falta a sua implementação e execução de forma coordenada, envolvendo o sector público, privado e toda a sociedade.
De que forma é que o Conselho Municipal pode melhorar a limpeza da cidade?
Bem, este é um desafio. O ponto fulcral que toca em toda sociedade é a educação ambiental, que afecta a gestão e a limpeza dos resíduos. Enquanto não tivermos esta acção de educação ambiental amplamente divulgada, esqueça! Nunca teremos uma limpeza desejável. Na África do Sul ninguém deixa lixo em qualquer sítio.
A educação ambiental tem custos, mas, para mim, seria a principal aposta para solucionar a questão da limpeza. Podes colocar infraestruturas e fazer investimentos com meios de recolha do lixo, sem a educação ambiental não vais conseguir ter uma limpeza de facto. Estamos a falar de uma acção individualizada com impacto negativo sobre colectivo, a sociedade.
A educação ambiental começa das nossas casas e avança para a sociedade. Mas não só, inclui também palestras sobre como fazer a recolha segregada e selectiva do lixo, a partir das nossas casas; tudo começa por aqui! Um outro apecto, tem a ver com a necessidade de incorporar elementos de tratamento dos resíduos.
Mais de 70 por cento do lixo que produzimos nas nossas casas é matéria orgânica. Se conseguirmos fazer o reaproveitamento, fazendo, primeiro, a segregação do lixo e tratamento, que pode ser a compostagem numa base caseira, muita coisa pode melhorar.
Mas, para isso acontecer, reque uma população com outro nível de educação?
Por isso, eu disse antes que é preciso uma educação ambiental da população. É um trabalho integrado que incorpora a sensibilização, conhecimentos sobre como fazer a recolha segregada, pelo menos saber separar matéria orgânica e o resto não orgânica, seria um bom começo.
Que acções de reciclagem do lixo são necessárias?
É preciso analisar os volumes e teores que são produzidos nas nossas casas. Porque quando falamos da reciclagem, estamos a falar também da sua reutilização como matéria prima para outras finalidades. Mas existe outro elemento associado a reciclagem que eu, como cientista nesta área, chamo da logística reversa, que é a devolução dos produtos e embalagens à origem. A logística reversa tem vantagens ambientais, económicas, a redução de volumes que vão a lixeira. Uns chamam de economia circular, um modelo de desenvolvimento e gestão de resíduos.
O CEISA instalou, há alguns anos, um biodigestor no refeitório da Colmeia. Qual é a avaliação que faz dessa iniciativa?
A instalação do biodigestor resulta de um projecto que escrevi e teve financiamento do Fundo Nacional de Investigação (FNI), no âmbito dos nossos esforços de gestão de resíduos. Na altura, tentou-se produzir energia, que era para alimentar a cozinha da Colmeia, mas faltaram alguns componentes. Mas sei que, agora, está em fase de remodelação de componentes que obrigaram a sua paralisação. Por isso, seria muito importante reactivarmos o biodigestor e colocarmos em prática a sua operacionalização. Faço uma avaliação positiva, mas faltou a sua implementação efectiva, devido a falta de equipamento. Mas a ideia inicial daquele biodigestor era depois fazermos a sua replicação a nível do Município e em outras cidades.
De que forma a academia pode contribuir na gestão do lixo na cidade de Maputo e não só?
Temos que incluir práticas básicas de gestão de resíduos sólidos nas escolas. Não diria que como disciplina, mas sei lá. Nós como CEISA, temos uma proposta de Elaboração do Plano de Gestão Integrado de Resíduos Sólidos, na UEM. Pretendemos, com este plano, que, cada unidade orgânica, tenha o seu próprio plano de gestão de resíduos. Envolve todas as fases e componentes que abordamos ao longo desta conversa, incluindo a Educação ambiental. Ser universitário não significa que se tenha capacidade de gestão de resíduos. Queremos implementar inicialmente aqui em casa, na UEM, e, depois, poder ser replicado por outras instituições e no país em geral. Vai ser uma forma de mostrar a sociedade que a UEM não está alheia à questão de gestão de resíduos sólidos. Já submetemos à Reitoria e tem algumas coisas que foram revistas.