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“É urgente a consciencialização de todos para preservação das ervas marinhas”

- Prof. Doutor Salomão Bandeira, Biólogo

BandeirasO investigador da semana é o Prof. Doutor Salomão Bandeira, Biólogo Marinho e docente de Botânica Marinha na Faculdade Ciências. Categorizado cientista marinho, desenvolve actualmente um projecto que visa restaurar cerca de 10 hectares de ervas marinhas na Baia de Maputo, lugar que considera estar a sofrer bastante com práticas erradas de extrativismo das ameijoas e outros invertebrados para o consumo.

O Prof. Salomão Bandeira tem estado a dirigir projectos de restauro do mangal e dos habitats das ervas marinhas, principalmente nas baías de Maputo e Inhambane. O que motivou a criação dessa iniciativa?
As ervas marinhas constituem o maior viveiro para peixe e, em especial, na cidade de Maputo, este habitat providencia amêjoas, que fazem parte do cardápio único que constitui símbolo antropológico da culinária moçambicana e singular de toda a região leste de África. Foi por ver as mulheres diariamente a tirar as amêijoas, no Bairro dos Pescadores, para o seu sustento, e a vulnerabilidade, tanto das ervas marinhas, especialmente uma das espécies que é ameaçada e das mulheres que vêm nas ervas a única fonte de sustento que embarcamos na iniciativa de restauração de ervas marinhas. Percebemos que a prática usada na retirada não era a mais adequada, pois destruíam as ervas marinhas que, como sabemos, são viveiros de peixes e, também, alimento do dugongo. Percebido o perigo que isso significava para o ecossistema marinho, juntamente com os estudantes, iniciamos, juntamente com os estudantes, acções de sensibilização, assim como o desenvolvimento de várias componentes que agregam o sistema de restauro. Depois, fomos para a Inhaca, onde criámos uma organização de base comunitária, e, com ajuda de uma organização não governamental em Inhambane, estabelecemos as bases para a iniciativa de restauro ter sucesso

Volvidos 5 anos, que avaliação faz da iniciativa?
A restauração é um contributo para minorar as consequências da destruição e, sobretudo, deverá ajudar a rever a crise climática global e cada país deve fazer a sua contribuição. Desde a revolução industrial, o planeta aqueceu mais de 1 grau e há necessidade de o manter a níveis não superiores a 1.5 graus centígrados, embora a tendência global aponte para o aquecimento um pouco acima de 2 graus centigrados até as próximas décadas (fim deste século, segundo as previsões). Isto será catastrófico e Moçambique caminha já para ter refugiados climáticos, devido a mega-destruição de infraestruturas e zonas populacionais devastadas por ciclones apocalípticos e doenças. O carbono azul constituído principalmente pelas florestas de mangais, tapetes de ervas marinhas e pântanos alagados são capazes de fazer um sequestro de carbono que quando no subsolo (idos da atmosfera) contribuem para tornar o clima do Planeta mais habitável e também para a manutenção dos padrões do clima. A destruição do mangal e das ervas marinhas afecta directamente a protecção costeira e da cadeia de produção. A Universidade está a trazer a técnica de restauro desses habitats, envolvendo várias áreas do saber trazendo no seu seio um fórum de actores que, em conjunto, estimulam as boas práticas e desenho de modelos e opções de gestão costeira. As minhas iniciativas de restauro visam, primeiro, formar estudantes dos níveis de graduação e pós-graduação a aprenderem as técnicas de restauração e estabelecer em particular o maior campo construído de ervas marinhas de toda a região da Africa Oriental.

Como é que garantem que as comunidades locais entendam as vossas acções?
Envolvemos as comunidades, explicando as consequências da destruição dos mangais e das ervas marinhas. As pessoas têm os seus meios de subsistência, que não podem ser adiados ou protelados. As comunidades das zonas costeiras precisam da lenha, peixe entre outros recursos marinhos, mas precisam de ser consciencializadas da necessidade de uso de práticas sustentáveis. Atender as necessidades de meios de sustento é primordial e fulcral para o sucesso de desenvolvimento de qualquer sociedade; sendo também premissa ligada à necessidade de parar com a causa primária da degradação, possibilitando assim o restauro e recuperação de habitats degradados.

Sabe-se que não é apenas a acção humana que destrói as ervas marinhas, há também a questão de mudanças climáticas…
Sim, as mudanças climáticas são outro factor que coloca em perigo as ervas marinhas. Por isso, há necessidade de conjugação de esforços de todos os actores no desenvolvimento de acções para a sua conservação. Nós estamos a cerca de 5 hectares de restauro na Baia de Maputo, a nossa meta é de 10. Não é um processo fácil. Veremos até ao fim do projecto. É muito importante a ligação da restauração com a literacia sobre oceanos, pois o oceano faz o clima, dá agua e pode vir a salvar a terra, em virtude dos super-heróis ambientais, que são as florestas azuis (mangais, ervas marinhas e pântanos), pois são capazes de fixar carbono como sumidouros no solo, 10 vezes mais que as florestas terrestres, ajudando, assim, a salvar o planeta do aquecimento global.

Concretamente, quais são as principais consequências da destruição dessa vegetação marinha de águas superficiais?
A redução de pescarias, a ausência de protecção costeira constitui uma perda de um património. Há várias décadas, Moçambique ganhava cerca de 30 por cento de divisas com base em recursos pesqueiros. Esses recursos, basicamente colapsaram. É preciso trazer novos modelos de gestão, que podem passar por intervir na cadeia de valor, proteger os santuários (áreas em que a pesca é proibida), entre outros. As ervas marinhas fazem parte dos recursos de grande valor. Contribuem para a saúde dos oceanos ao produzir oxigénio, ajudando, desta forma, a reduzir os agentes patogénicos e bactérias prejudiciais para a saúde da vida no mar e, consequentemente, contribuindo para o bem-estar humano. Há que reforçar a sua preservação, através do investimento na criação de áreas marinhas de protecção comunitária e restauração dos habitats. Tem que haver sensibilização permanente e intervenção de todos os actores.
Temos a questão do lixo plástico nas praias, com consequências já conhecidas. Os nossos conselhos municipais têm que estar munidos de pessoas que entendem o ambiente e algumas decisões tem que seguir o contexto ambiental.

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