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“O projecto Bio Cultural está a desenvolver pesquisas sobre a indústria cultural e sua ligação com a biodiversidade”


- Prof. Doutor Hilário Madiquida

HMadiquida-IlhaMocA UEM, através do Departamento de Antropologia e Arqueologia da Faculdade de Letras e Ciências Sociais (FLCS), está a implementar, com o apoio do Reino da Suécia, o projecto Bio Cultural, focado no desenvolvimento de pesquisas sobre as indústrias culturais, no país, e sua ligação com a biodiversidade. Tem a duração de 5 anos e, além da componente de pesquisa, integra a formação de quadros nos níveis de Doutoramento e Pós-Doutoramento.
O coordenador, Prof. Doutor Hilário Madiquida, fez saber que o projecto está também a financiar a construção de um mercado cultural, no Parque Arqueológico de Chongoene, onde as comunidades locais, entre outros, poderão confeccionar os alimentos para os visitantes do parque, uma forma de garantir que o projecto impulsione o desenvolvimento local.
Enquanto isso, Hilário Madiquida integra uma equipa cuja missão é actualizar o Museu da Ilha de Moçambique, província de Nampula.

Quais são as regiões do país que vão beneficiar do projecto?
O projecto abrange todo o país. Na região sul, estamos a criar o Parque Arqueológico de Chongoene, ao mesmo tempo que decorrem pesquisas com abordagem bio cultural sobre aquela região. Em Changalene, pesquisadores desenvolvem investigação e fazem algumas reconstituições de factos sobre a idade da pedra superior, bem como a utilização de recursos e mudanças ocorridas nos ecossistemas.
Na região centro do país, eu mesmo estou a fazer algumas pesquisas para obtenção do meu Pós-doutoramento através da Universidade de Uppsala, Suécia.
Na região norte temos dois investigadores que estão a fazer trabalhos identitários ao redor da Ilha de Moçambique, sobre formas de protecção da Ilha, uma vez que as populações estão a retirar os corais.

Que tipo de descobertas o Prof. Doutor Madiquida está a fazer no centro do país?
Estou a fazer trabalhos na área de arqueologia, mas associado às mudanças climáticas na zona de Sofala. Abordamos sobre o entreposto comercial da nova Sofala, uma das estaçōes importantes com as mesmas evidências arqueológicas da Ilha de Moçambique. Um detalhe importante, a Ilha de Moçambique aparece depois de Sofala, por ser o primeiro local a ser ocupado pelos árabes e a se desenvolver o comércio, por haver rotas de comércio entre o interior e a costa, onde se comercializava ouro, produto principal.
E só depois disso é que houve essa interacção com a província de Nampula, distrito de Angoche e depois a Ilha de Moçambique.

Mas porquê a história destaca tanto a Ilha de Moçambique?
Porque ela se desenvolveu muito rapidamente no tempo colonial. Na verdade, ela foi ocupada pelos árabes no tempo pré-colonial, mas não havia condições adequadas para a sobrevivência humana, principalmente a falta de água. Mas a ocupação efectiva aconteceu no tempo colonial, o que possibilita a criação de evidências arqueológicas como as que temos agora. Mas, na região de Sofala, as evidências começaram muito antes.

E qual é a ênfase que o projecto bio cultural pretende dar?
O projecto bio cultural tem como objectivo fundamental olhar sobre o conceito das indústrias culturais e sua ligação com a biodiversidade. Quando falamos da cultura, não focamos apenas na criatividade humana, mas nos recursos naturais como hídricos, faunísticos e florestais, sem os quais não é possível vivermos.
Então, nós tentámos fazer essas abordagens para explicarmos as alterações climáticas ocorridas.

Qual é a duração do projecto bio cultural?
O projecto tem a duração de 5 anos, foi interrompido devido a pandemia da Covid-19, mas agora retomamos. Já decorrem as pesquisas e aguardemos pelos resultados.

Além das pesquisas a serem desenvolvidas, quais são as outras valias do projecto bio cultural?
Devo adiantar que, no âmbito da criação do Parque Arqueológico de Chongoene, vamos financiar a construção do mercado cultural, onde as comunidades locais irão confeccionar alimentos para quando as pessoas visitarem o parque se deliciarem também das iguarias locais. É uma forma que encontramos de direccionar os nossos projectos para o desenvolvimento local.
Está a desenvolver um trabalho com vista a tornar o Museu da Ilha de Moçambique mais actual. Fale-nos um pouco desse projecto.
Bem, qualquer visitante que hoje chega à Ilha de Moçambique, vai constatar que as evidências que estão lá expostas são do tempo colonial. Não tem nada relacionada com a Ilha, daquilo que ela oferece como um local histórico. Não tem existe património a partir do qual as pessoas podem contar a história da Ilha de Moçambique.

Então pretendem retirar o que está no Museu ou actualizá-lo?
Não pretendemos tirar nada do Museu, mas queremos organizar os objectos de tal maneira que possam condizer com a realidade. Isto é, deve existir a história pré-colonial, a colonial e a história recente. O que temos agora exposto no Museu da Ilha de Moçambique é apenas a história colonial.

E esse trabalho de actualização já começou?
O que fizemos até agora foi visitar o Museu, fizemos um levantamento. Por isso que, nesta entrevista, estou a afirmar com toda a certeza que as evidências que estão lá, apenas dizem respeito ao tempo colonial, porque visitamos. Por exemplo, há barcos antigos na Ilha de Moçambique, que deviam estar no Museu e não estão. É esse trabalho de actualização que estamos a fazer.

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