
Bambu pode ser a chave para habitação resiliente em Moçambique
advogam académicos
Arquitectos, docentes e investigadores da Faculdade de Arquitetura e Planeamento Físico da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e do Instituto Politécnico de Madrid (Espanha) defenderam, em Maputo, o uso do bambu como alternativa sustentável e resiliente na construção habitacional em Moçambique.
Durante o workshop sobre Construção Resiliente com Bambu, os especialistas destacaram que este recurso natural, quando correctamente tratado e aplicado, pode oferecer durabilidade e resistência às habitações, tanto em elementos estruturais como de acabamento, sobretudo em regiões costeiras frequentemente assoladas por ciclones e ventos fortes.
Na abertura, o Director da Faculdade de Arquitetura, Prof. Doutor Carlos Trindade, sublinhou que a UEM está a promover reflexões internas sobre o aproveitamento do bambu como material alternativo na construção.
O dirigente lançou um repto aos docentes e investigadores e demais especialistas para encontrarem mecanismos e proporem soluções inovadoras, de modo a garantir a resiliência das construções precárias erguidas com recurso ao bambu, no país. “Numa visita recente a Cabo Delgado, verificamos que há muitas casas feitas à base do bambu, misturada com matope e pedra, e uma reflexão mais aprofundada pode trazer soluções inovadoras para as construções precárias à base do bambu”, disse.
A especialista Khiusha Kiener Uaila, da Associação dos Amigos do Bambu (Assamba), reforçou que este material é não só renovável e sustentável, mas também contribui para o controlo da erosão e a restauração dos solos. Contudo, alertou que o seu uso na construção exige tratamento técnico adequado, devido à vulnerabilidade a insectos. “Como especialistas temos uma farma na Ponta de Ouro, onde estamos a testar nove variedades de bambu para perceber como elas podem crescer aqui em Moçambique”, acrescentou.
A Assamba anunciou ainda planos de criar um Centro de Pesquisa e Educação em Bambu, para capacitar construtores, desenvolver investigação e difundir o uso sustentável deste recurso em Moçambique.
Segundo a fonte, Moçambique dispõe do bambu nativo e um clima propício para a sua plantação que pode gerar uma cadeia de valor com benefícios ambientais, sociais e económicos.
O workshop decorreu em duas etapas: a construção de um protótipo de habitação resiliente em bambu e o debate de um currículo formativo para o futuro centro. Os debates abordaram dimensões económicas, sociais e técnicas do bambu, desde a plantação até ao processamento e aplicação em construções sustentáveis.
Além de académicos, o evento contou com a presença de representantes do Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD) e da UN-Habitat, reforçando o compromisso nacional e internacional em promover soluções inovadoras para habitação digna e resiliente em Moçambique.