Universidade Eduardo Mondlane

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A arma cultural que ajudou a construir o Estado Moçambicano pós-independência

MAKWAYELA

Mais do que uma expressão artística, a Makwayela funcionou como uma poderosa ferramenta de engenharia social e construção do Estado​ no Moçambique pós-independência. Esta foi a tese central do workshop “Makwayela e a Transição Socialista: Performance, Trabalho e Terra no Moçambique Pós-independência”, realizado pelo Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane (CEA-UEM), que reuniu académicos e artistas para decifrar o papel político desta tradição performativa.

O evento revelou como, após 1975, a FRELIMO cooptou e transformou esta prática cultural, nascida nas minhas da África do Sul como voz de trabalhadores migrantes, num instrumento de doutrinação e unificação nacional. A Makwayela foi levada pelo Estado para as aldeias comunais, fazendas estatais e fábricas, tornando-se a trilha sonora oficial do projecto socialista.

O workshop destacou a transição crucial da Makwayela: de um canto de reflexão sobre a mobilidade laboral e a exploração, ela foi convertida num meio de comunicação de massas para disseminar a nova ideologia estatal. As suas performances passaram a explicar e celebrar as políticas de reforma agrária, as mudanças infra-estruturais e os novos conceitos de trabalho colectivo, actuando como uma espécie de ministério da propaganda em formato artístico.

“Executada nas aldeias comunais, fazendas estatais e fábricas, a Makwayela assumiu um papel central na experiência socialista moçambicana, funcionando como trilha sonora e estrutura formativa das relações com a terra e o trabalho”, analisaram os especialistas. A prática tornou-se um veículo para moldar a mentalidade do “homem novo” que o Estado pretendia criar.

Segundo o investigador do CEA, Carlos Fernandes, o workshop procurou “compreender as dinâmicas culturais, políticas, sociais e económicas, bem como a produção de outros tipos de conhecimento, para além do científico, num período interessante de Moçambique”.

O encontro, que juntou especialistas de várias universidades de Moçambique, Alemanha, Suécia e Estados Unidos da América, evidenciou que a Makwayela foi fundamental para a construção e contestação dos projectos de desenvolvimento​ conduzidos pelo Estado, servindo como um espaço onde as políticas eram não só divulgadas, mas também, por vezes, reinterpretadas pela população.