
Especialistas pedem mais investigação sobre bilinguismo de surdos em Moçambique
EDUCAÇÃO INCLUSIVA EM DEBATE
Apesar de existirem vários estudos sobre bilinguismo em línguas vocais, ainda são escassos os trabalhos dedicados à educação bilingue de surdos em Moçambique, fragilizando os esforços rumo a uma educação verdadeiramente inclusiva.
A preocupação foi levantada durante a mesa redonda “Uma reflexão sobre a educação dos surdos em Moçambique”, organizada na Terça-feira pela Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), no âmbito das comemorações do Dia Internacional das Línguas de Sinais.
Segundo os oradores, a educação multicultural dos surdos não deve se limitar à adopção da Língua de Sinais Moçambicana como primeira língua, mas sim, integrar uma abordagem que valorize os marcadores culturais surdos no espaço escolar.
Para Luís Muengua, orador principal, a circulação desses marcadores é decisiva para o sucesso do percurso educativo, permitindo mudanças reais nas instituições de ensino e nas políticas públicas. “A ausência destes marcadores produz efeitos sobre actores educativos. A sua consideração pode ajudar a resolver problemas ligados à injustiça social e à reprodução das desigualdades na escola”, sublinhou.
Muengua explicou que os marcadores culturais são elementos que ampliam a visibilidade social dos surdos, reconhecendo-os como sujeitos singulares e integrantes de comunidades próprias. Criticou, ainda, a actuação limitada de várias associações nacionais: “em termos de actividades, o que fazem e por onde andam estas associações?”, questionou.
Na mesma linha, o Presidente da Federação das Associações dos Surdos de Moçambique (FASMO), Celso Magumbe, destacou a “luta” pela aprovação oficial da Língua de Sinais e pela formação de agentes do Estado para apoiar cidadãos surdos, inclusive em situações de emergência. “Queremos que as universidades incluam a Língua de Sinais nos seus currículos e desenvolvam mais pesquisas nesta área”, defendeu.
Em representação da direcção da Faculdade de Educação, o Prof. Doutor Domingos Buque afirmou que eventos como este procuram reforçar a consciência social sobre a importância da Língua de Sinais para a efectivação dos direitos humanos das pessoas surdas.
Buque alertou ainda que o país enfrenta uma grande lacuna: a formação de graduados em Língua de Sinais. Essa ausência, segundo ele, contribui para a exclusão de muitas crianças surdas do sistema educativo, privando-as injustamente do direito à aprendizagem.