
“País deve abandonar o uso abusivo dos recursos fósseis”
Graça Machel desafia UEM a liderar transição energética com base na ciência
Numa intervenção marcada pela urgência e lucidez, a activista social e antiga Ministra da Educação, Graça Machel, desafiou a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) a assumir um papel de vanguarda nos debates científicos e políticos sobre a transição energética em Moçambique.
O apelo foi lançado esta Quinta-feira (12/06), em Maputo, durante a 1.ª Edição da Open University Lecture sobre Mulheres na Energia Limpa e Acção Climática, promovida em parceria com a Graça Machel Trust.
Com palavras firmes, Graça Machel denunciou o actual modelo de exploração de combustíveis fósseis no país, que descreveu como sendo “agressivo e lucrativo”, conduzido “sem remorso nem preocupação com os impactos sobre o planeta”.
Consciente do poder transformador da ciência, Machel encorajou a academia a intensificar pesquisas e investigações orientadas para soluções sustentáveis, capazes de reverter os efeitos devastadores das mudanças climáticas, particularmente sentidos nas comunidades rurais, onde o luto e a pobreza avançam ao ritmo da degradação ambiental.
No seu apelo à UEM, propôs a criação de debates regulares e profundos sobre a transição energética, com base em evidência científica, capazes de informar políticas públicas e práticas responsáveis. Foi categórica ao afirmar que o país precisa de “abandonar ao que chamou de ‘uso abusivo dos recursos fósseis’ para adoptar as energias renováveis”.
Graça Machel lembrou que Moçambique não está desprovido de alternativas. Pelo contrário, é detentor de riquezas naturais estratégicas como a energia eólica, hídrica e o gás natural, este último apontado como menos poluente. E defendeu o seguinte: “Com estes recursos todos temos o poder de negociar com as grandes companhias para explorarmos apenas aqueles menos poluentes.”
Para Machel, a transição energética justa começa dentro das universidades. Por isso, reforçou a urgência de uma agenda académica robusta, que envolva docentes, investigadores e estudantes de mestrado e doutoramento na concepção de alternativas viáveis e sustentáveis.
Num momento de reflexão sobre o papel das instituições de ensino superior no desenvolvimento do país, lembrou que a UEM carrega uma responsabilidade histórica com Moçambique: é na ciência produzida na academia que reside a chave para uma nova era energética, mais justa e amiga do planeta.
Em representação do Reitor da UEM, o Prof. Doutor Daud Jamal, Director da Faculdade de Ciências, considerou o momento como uma oportunidade de reflexão sobre o papel de todos na construção de um futuro mais sustentável, mais justo e inclusivo.