Inventar novas compreensões a partir da realidade
– sugere o filósofo Ergimino Mucale
O académico e docente da Faculdade de Filosofia, Mestre Ergimino Mucale, reconheceuhaver um esforço dos académicos africanos em fazer uma nova África, a partir da renovação material e espiritual do conhecimento africano, depois dos encontros que o continente teve com os saberes de fora e, sobretudo, tendo em conta os desafios actuais que passam pelo neoliberalismo e pela globalização.
Entretanto, esta dimensão da renovação africana passa não apenas por inventar novos conceitos, mas, sobretudo, novas compreensões a partir da realidade que vivemos e a remobilização da história africana e culturas africanas para repensar as novas ondas de invasões culturais que África enfrenta.
O académico, que falava em torno do “contributo da filosofia africana no contexto actual”, reconheceu a influência do Eurocentrismo na construção dos académicos africanos, mas garantiu que a filosofia tem vindo a desconstruir e a recentrar a prática científica, ou seja, os académicos africanos têm estado a se assumir como produtores do conhecimento.
Em Moçambique, apontou exemplos desse esforço africano da desconstrução e renovação africana as obras “intersubjectivação”, de José Castiano; “o respeito ao saber diferente”, de Brazão Mazula; e “Paradigama Liberdade”, de Severino Ngoenha, entre outros.
Mucale explica que desconstruir e recentrar a prática científica implica entender que nem todo o conceito, a partir de uma perspectiva americana ou europeia, pode ser literalmente aplicado nos contextos africanos e produzir resultados desejados.
Numa outra perspectiva sobre o contributo da filosofia para a sociedade, o filósofo e Professor Doutor Severino Ngoenha, defende que a filosofia não pode ajudar a desenvolver uma sociedade íntegra, mas ela pauta necessariamente por um acompanhamento rigoroso e paulatino da formação de uma sociedade livre e justa.
Para Ngoenha, os valores de Moçambique já não podem ser os das nossas tradições, nem podem ser aqueles impostos pelo colonialismo ou do socialismo, mas os da liberdade, pelo que, a filosofia deve existir para ajudar no acompanhamento paulatino da sociedade a fazer a distinção entre os campos da liberdade e os campos da justiça.
“O viver juntos, respeitando os valores de cada um, isto é toda a busca que a filosofia é suposta fazer, ajudar no encaminhamento e fazer a destrinça entre a necessária liberdade que cada um como pessoa deve ter, mas a necessidade de entender aquilo que não pode ser negociável em termos individuais, porque é apanágio daquilo que faz a comunidade.”
Lembrou que existe uma ligação intrínseca entre o nascimento da filosofia e a educação, porquanto ela nasce para um novo modelo de educação, que não é um mero conhecer, mas que permite aos cidadãos entender a eles próprios como membros de uma comunidade dentro da qual têm direitos, mas também deveres.
Os académicos falavam num painel sobre o papel da filosofia para a sociedade e no contexto actual durante o IV Encontro Nacional de Pesquisa em Educação, III Encontro Nacional de Pesquisa em Psicologia e II Simpósio de Desenvolvimento e Educação de Infância, promovido recentemente pela Faculdade de Educação da UEM.