Interrupção das aulas afecta desenvolvimento cognitivo e socio- emocional dos estudantes
– afirma Mestre Nilza César, docente de psicologia na FACED
O país tem registado, nos últimos dias, com destaque para a cidade e província de Maputo, a paralisação total ou parcial das actividades entre públicas e privadas. Um dos sectores que mais se ressente dessa interrupção forçada é o da educação, por mexer directamente com o calendário académico, principalmente no ensino primário e secundário, por coincidir directamente com a realização das provas finais.
A docente de Psicologia na Faculdade de Educação, Mestre Nilza César, garante que a interrupção abrupta e prolongada das aulas para os estudantes, em geral, e para os universitários, em particular, afecta o desenvolvimento cognitivo (habilidades cognitivas), sócio-emocional e saúde mental.
Afirma que a motivação e o desempenho académico dos estudantes ficam igualmente comprometidos com a interrupção.
Quais são os principais impactos de interrupção abrupta das aulas para estudantes universitários e outros subsistemas de ensino?
Os principais impactos psicológicos já foram estudados e estes afectam o desenvolvimento cognitivo (habilidades cognitivas), sócio-emocional e saúde mental. Assim, pode-se fazer referência ao aumento dos níveis de ansiedade, hiperatividade e desatenção, prejuízos na cognição geral, desenvolvimento motor e quedas significantes de prontidão e de desempenho escolar.
Como e que essa paralisação pode afectar o desenvolvimento cognitivo e emocional dos estudantes, especialmente os mais novos?
A paralisação prolongada das aulas pode afectar o desenvolvimento cognitivo e emocional dos estudantes e, em particular, dos mais novos, que se encontram nas fases iniciais de ensino, na medida em que pode comprometer negativamente a proficiência dos estudantes.
Ademais o desenvolvimento de habilidades fica afectado devido ao “efeito escola” (a parcela de responsabilidade que a escola agrega ao aprendizado dos estudantes), uma vez que a sua exposição ao ambiente escolar é um estímulo determinante para a aprendizagem.
Uma outra consequência prende-se com o facto deste poder experimentar dificuldades de interacção social, decorrente do seu afastamento do espaço de sociabilidade mais amplo que a escola oferece.
Que efeitos essa interrupção pode ter na motivação e no desempenho académico a longo prazo?
Os efeitos na aprendizagem, a motivação e o desempenho académico ficam igualmente comprometidos com a interrupção abrupta das aulas, uma vez que ficaram frustradas as expectativas quanto a finalização em tempo útil dos programas e planos curriculares em todos os níveis de esnino. Igualmente, o processo de avaliações somativas, que avaliam o desenvolvimento do estudante ao fim de cada ciclo ou nível, fica afectado pela interrupção.
A probabilidade de aumento do risco do absentismo estudantil torna-se real diante da impossibilidade da efectividade do ensino online (dificuldade de acesso a internet por razões várias).
O aumento da taxa de abandono escolar pode ocorrer, principalmente por parte de alunos provenientes de famílias em situação de alta vulnerabilidade sócio-económica.
Estudos empíricos mostraram que, com a interrupção do processo de aprendizagem, a vulnerabilidade dos estudantes é intensificada devido à falta de interacção entre estudantes e professores. Eventualmente, são interrompidos o estímulo a conversação, a narração de histórias, a leitura, as brincadeiras, a adesão a regras, a solução de problemas, a consolidação de relações e memórias afectivas que, por sua vez, propiciam estimulação de funções como linguagem, comunicação, abstração e funções executivas, todas dependentes de modelagem, dai
o insucesso escolar torna-se um fenómeno iminente.
Que estratégias ou praticas os estudantes podem adoptar para manter a saúde mental durante
esta fase de inatividade escolar?
Porque o desenvolvimento de capacidades biológicas na infância e na juventude dependem de estímulos ambientais/sociais/culturais, que garantem o funcionamento do cérebro, as estratégias ou práticas a adoptar para a saúde mental durante a fase de inactividade escolar, incluem a planificação de tarefas escolares que possam ser realizadas fora da escola (trabalho remoto) pelos alunos e a criação de um mecanismo de tutoria ou apoio com recurso tecnológico, contribuindo, assim, para que este se mantenha ocupado com actividades que lhe constroem, mas, também, para que cultive uma rotina saudável que permite o cumprimento das tarefas e um melhor aproveitamento e gestão do seu tempo.
Que papel a instituição de ensino pode desempenhar para minimizar os impactos
psicológicos dessas situações?
Com vista a minimizar os impactos psicológicos dessa situação, as instituições de ensino podem desenvolver um Plano de Acção institucional, para fazer face à crise; considerar a adequação do calendário tendo em conta o tempo perdido e a ineficácia das soluções alternativas (trabalho remoto); e intensificar a monitoria do processo de ensino e
aprendizagem no pós-crise.
Em que medida a interrupção das actividades escolares afecta também os professores e
profissionais de educação?
A interrupção das actividades escolares afecta, igualmente, professores e profissionais de educação, pois aumenta os níveis de ansiedade e stress, gerado pela necessidade de cumprimento de missão e garantia da continuidade do processo de ensino em condições adversas e com a qualidade esperada e desejada.