Pesquisadores buscam soluções para vítimas de terrorismo: Professor Armindo Ngunga propõe um modelo de gestão de deslocados baseado em aldeias
Investigadores do Centro de Estudos Africanos da UEM (CEA) apresentaram uma série de pesquisas e projectos de investigação científica que propõem novas estratégias para minimizar o sofrimento das populações vítimas de terrorismo em Cabo Delegado, bem como dos desastres naturais.
O acto resultou de um workshop interdisciplinar, organizado, esta Segunda-feira, no Campus Principal, intitulado “Deslocações, identidades e sociedades nos processos de reconstrução: um olhar sociopolítico na materialidade das trajectórias de vida”, cujo objectivo é juntar pesquisas para uma publicação científica.
Intervindo na abertura do evento, o Director do CEA, Prof. Doutor Carlos Arnaldo, afirmou que o tema em debate é pertinente para Moçambique, um país sujeito a movimentação das populações afectadas por desastres naturais e pelo terrorismo no norte do país.
“As várias perspectivas a serem apresentadas culminarão com a identificação de problema e possíveis soluções capazes de orientar a implementação de instrumentos regulatórios que já existem e, se necessário, fazer-se ajustes em função dos resultados das pesquisas”, perspectivou o pesquisador.
Na ocasião, o investigador do CEA, Professor Catedrático Armindo Ngunga, apresentou um estudo, cujo titulo é: “Marokani, exemplo de resiliência e superação de deslocados vítimas de terrorismo em Cabo Delegado”, no qual mostra que a principal preocupação destas pessoas vulneráveis é com a acomodação condigna e alimentação, daí que a pesquisa propõe um modelo de gestão de deslocados baseado em aldeias. “Sendo o terrorismo uma situação diferente de calamidades naturais, há que diferenciar o modelo de gestão de deslocados e nós optamos por aldeias. Estamos a falar de zonas residenciais devidamente infraestruturadas, incluindo áreas comerciais e de lazer, onde há provisão de serviços básicos como saúde, água e energia.”
Ngunga trouxe o exemplo de Marokani, distrito de Ancuabe, onde os deslocados levam a vida à normalidade, após a construção de aldeias, mostrando, deste modo, que a reconstrução não deve esperar pelo fim do conflito e que a acomodação condigna é prioritária para as vítimas do conflito.
Por seu turno, Marina Pastore, colaboradora do CEA, apresentou “Narrativas e experiências de crianças deslocadas em acampamentos em Cabo Delegado”, na qual constata que, na prática, os menores não têm tido apoio psicossocial. “Só para estar ali, tinha que ser no âmbito de um projecto. Por exemplo, no Acampamento Eduardo Mondlane, em que, em Janeiro do ano passado, havia mais de 20 mil pessoas, destas 5.893 eram crianças. Trabalhamos apenas com 150 menores e, mesmo assim, não conseguimos prestar apoio de forma individual a todo este universo”.
Num segundo momento, a pesquisadora procurou entender, através de desenho escolar, o sofrimento que as crianças passaram durante o período de deslocação do local de conflito para os acampamentos, tendo recebido relatos de situações críticas que denunciam traumas preocupantes. “As crianças contam, com imagens, aquilo que passam. Algumas contaram que viram os seus pais a serem decapitados à sua frente”, disse a investigadora, alertando à necessidade de melhoria de qualidade deste tipo de serviços médicos para se minimizar traumas causadas pela guerra.