Desafios do scouting de futebol-11 em Moçambique: Pobreza extrema condiciona o desenvolvimento do atleta
Problemas associados à alimentação constituem desafios na formação de jovens atletas no futebol-11, em Moçambique, considera o especialista Tiago Cassis, do Clube Brera de Tchumene.
Tiago Cassis explica que se trata de uma questão estrutural e familiar, porque nem sempre os rapazes, entre os 3 e 16 anos, chegam à formação preparados como seria de esperar, principalmente devido a factores alimentares que, por conta disso, acabam interferindo no desenvolvimento do atleta.
De acordo com o técnico, os principais problemas de um atleta, quando chega a uma equipa de alto rendimento como o Brera, prende-se com a mentalidade e ansiedade. “Se você não tem o rapaz com uma condição bem resolvida, condição familiar segura, dificilmente poderá ter um futuro profissional competente e este dificilmente consegue alcançar o ideal em termos de mentalidade requerida na prática desportiva.” Tendo sido sanadas todas essas questões referentes à alimentação, garante Cassis, componentes físicas e psicológicas, ficam criadas as condições para o desenvolvimento progressivo de um atleta de futebol-11.
Todavia, os clubes moçambicanos não dispõem de condições para formação e scouting, entre os quais, processos de planificação bem definidos, alta tecnologia, incluindo equipamentos de vídeos para captar os movimentos técnicos dos atletas em campo. O Brera FC de Tchumene, um novo clube instituido no país, dispõe de uma equipa de scouting espalhada pelo país que visualiza jogadores cujos melhores são incorporados na equipa base de formação com garantias de bolsa.
Em média, 15 por cento dos jogadores que fazem parte da formação base são integrados na equipa principal. “Esta é uma cifra muito satisfatória que revela a qualidade do scouting do Brera de Tchumene, muito acima das equipas europeias e brasileiras que estão abaixo dos 10 por cento em que, nalguns casos, s um jogador sobe à equipa principal por época.”
O especialista falava durante um workshop subordinado ao tema o “Scouting no Futebol em Moçambique: status, desafios e perspectivas”, organizado pela Escola Superior de Ciências do Desporto da UEM, em parceria com a ProSport e a Associação Académica de Maputo na qual, participaram os membros da direcção da escola, docentes, estudantes e convidados ligados a área da temática abordada.
Na abertura, o Director da ESCIDE, Mestre Paulo Gumende, admitiu que as actividades desenvolvidas pelos especialistas nas organizações desportivas constituem laboratórios de investigação, pelo que, apelou, mais uma vez, para que estas recebam os estudantes sem grandes reservas, porquanto se dirigem a esses lugares para partilha do conhecimento científico e aprendizagem da componente prática.
Aos estudantes, reforçou o apelo para que saibam se comportar quando se dirigem às organizações desportivas para efeito de estágios ou trabalhos de campo.